quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Lugares

Início de tarde no vale glaciar do Zêzere

Manto de nuvens em volta da montanha do Pico

João Castanheira

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Catita - Parte II

Sendo um pouco mais explícito, o Catita que o Luís Guarita refere no post anterior é o mui ilustre constitucionalista Vital Moreira, personalidade que, semanalmente, se dirige à nação nas páginas do jornal Público. O tom da coisa é professoral, flutuando entre o maçudo e o irritante.

A partir do seu sofá, o constitucionalista vem a terreiro para, invariavelmente, defender de forma obstinada toda e qualquer medida que o eng.º Sócrates decida anunciar. É uma espécie de Peres Metello em versão hardcore. O leitor incauto corre o risco de terminar a leitura trespassado pela espada do diligente guerreiro rosa. Eu próprio acabo frequentemente amargurado, por não conseguir atingir o alcance de algumas das iniciativas pelas quais o académico coimbrão se atravessa.

Agora a sério, importa não levar o nosso constitucionalista demasiado a sério. É que ele é o mesmo que, não há muitos anos, emitia as suas fatwas do alto da tribuna do comité central do PCP. Defendia então, no mesmo tom professoral, o contrário de tudo aquilo que hoje defende. Até ao dia em que descobriu que afinal estava enganado. Ou melhor, até ao dia em que apanhou o comboio do PS.
J
João Castanheira

O Catita

Este Sr. Professor Moreira é aquilo a que eu chamo um catita. Um tipo estilo bacano com ar porreiro e atitude simpática mas que em boa verdade meu deus… E isto porquê? Segundo ele há uma teoria que facilmente explica esta coisa incrível de haver mais escolas privadas que públicas no topo do mal fadado ranking de escolas. É a origem dos garotos, senhor, essa hedionda origem, que tudo marca e tudo define.

Eu, que sou dado ao respeitinho e nunca questiono essa magnífica autoridade de um notável lente da cidade do Mondego, às vezes e confesso que em desespero, atinjo um ponto em que me pergunto, mas que mal fizemos para merecer estas sumidades? Então mas será que pelos séculos fora nunca nenhuma menina ou menino singraram por via desse anátema social que é a sua origem? E será que se oferecêssemos um cheque a uma família de recursos limitados para que esta pudesse escolher livremente a escola dos seus filhos ela recusaria? Pois é, nem respondo, deixo à consideração geral. É que de facto a qualidade pedagógica, o rigor, os métodos e as práticas e uma coisa tão etérea como a autoridade – sacrilégio - são meros e irrelevantes detalhes, o que verdadeiramente determina, Professor dixit, é a condição senhores, é a condição.

Mas pronto, o Professor lá debita as suas teorias e eu que até as vou lendo, nunca concordo com elas (ah, mentira, ouve uma, há muito, muito tempo com que concordei, uma sobre o regime florestal em Portugal), mas que ele é um catita, lá isso é.

Luís Manuel Guarita

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Bandalheira

Depois do fim das reprovações por faltas no ensino básico e secundário, imagina-se que em breve será decretada a proibição total do chumbo no nosso sistema de ensino. Esta medida visionária guindará Portugal ao topo das estatísticas mundiais do sucesso escolar, ainda que a nossa massa estudantil caminhe a passos largos para se transformar numa imensa mole de ignorantes e iletrados.

Para o Estado, deixou de existir diferença entre um aluno assíduo e aplicado e um desgraçado que passe fugazmente pela escola, com o objectivo de fumar um charro ou insultar um professor. Para o sistema, são dois jovens em pé de igualdade.

Mérito, esforço, dedicação, rigor, exigência, o que é isso? Está definitivamente instalada a bandalheira no nosso sistema de ensino.

Temo que, a prazo, a concepção socialista da educação nos empurre para um novo modelo de escola. Uma escola-tipo constituída por um grande complexo tecnológico, seja lá o que isso for, acompanhado por uma ou duas salas de aula, ginásio e sala de chuto.

Entretanto, professor que se atreva a reprovar um aluno verá provavelmente ser-lhe instaurado um processo disciplinar. É que as boas estatísticas são um assunto de interesse nacional, ainda que conseguidas à custa da destruição do nosso já precário sistema de ensino público.

E que ninguém diga que os decisores políticos, que tão bem governam, tudo fazem para se manter longe do projecto de escola que estão a criar, inscrevendo os seus filhos nos melhores colégios privados do país. Alguém está a insinuar que o facilitismo é bom mas é para os filhos dos outros? Vejam lá se é preciso chamar a autoridade!
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João Castanheira

À Direita e mais nada!

Comecemos então...

O João já se havia adiantado e já tratou de preencher esta janela que abrimos ao mundo com as suas reflexões e desilusões. Sim desilusões, que este post da Bandalheira mais do que uma situação de facto é um grito de alma que partilho. Mas ainda a tempo, e porque ainda mal iniciamos este caminho, aproveito para lançar as velas desta nossa nau comum e começar a soprar ideias, porque é esse o sentido da navegação que em conjunto empreendemos.

Comecemos pelos princípios.

Esta é uma nau pela direita, com clareza e modernidade nos princípios, feita de um olhar aberto e atento ao mundo que nos rodeia, mas firme e sólida nos valores que defendemos.

E por isso aqui vamos, nesta aventura pelos caminhos que pretendemos para uma direita em Portugal. Uma direita sem fantasmas, não temos complexos de culpa e genuinamente acreditamos que os valores que defendemos são superiores. Uma direita combativa e afirmativa, que não ceda a facilitismos de discurso e rejeite populismos serôdios. Uma direita de ideias, capaz de inovar nos pressupostos e afrontar nos princípios. Uma direita direita, porque de meios termos e mistificações estamos já fartos. Uma direita vencedora por afirmação e não por omissão. É preciso vencer pela força do que defendemos e não pela ausência do que não dizemos. Uma direita arejada. Há causas que temos que assumir e caminhos que devemos trilhar.

E por isso, porque é à direita que estamos, vamos lá soltar as velas e sulcar os mares da discussão, à procura do nosso cabo, mas a favor das nossas concepções e na defesa do nosso olhar sobre este mundo que nos envolve.

E é assim mesmo, à Direita e mais nada!

Luís Manuel Guarita

domingo, 28 de outubro de 2007

O Divórcio

Regressei há dias a Amarante, terra natal de Agustina, Amadeo de Souza-Cardoso, Teixeira de Pascoaes e tantos outros vultos da nossa cultura. Voltei a percorrer o empedrado das ruas do centro histórico, voltei a surpreender-me com a beleza do Tâmega, com a força do convento e da ponte de São Gonçalo, com a dignidade das gentes, com o carácter de uma velha urbe onde apetece ficar.

Nas ruas da cidade encontrei o bulício habitual. Gente que sai das igrejas, gente que entra nas lojas, crianças que correm pela ponte, mulheres calcorreando velozmente as calçadas, homens que conversam nas esplanadas, namorados que se abraçam nos jardins e, lá em baixo, a água do rio que corre imperturbável rumo ao Douro. A vida não pára em Amarante.

Tenho por aquela cidade uma admiração especial. Uma admiração reforçada no dia em que o povo decidiu infligir uma humilhante derrota autárquica ao inenarrável Senhor Avelino. Uma vergastada democrática aplicada no mesmo dia em que as elites de Oeiras reelegiam Isaltino e em que o operariado de Felgueiras se ajoelhava perante a sua Fátima. Naquele dia, foi de Amarante que veio um sinal de esperança. É verdade que respirei fundo, mas eu sempre soube que a dignidade daquela gente jamais seria trocada por uma voltinha de helicóptero ou por uma jantarada ordinária.

Quando visito uma cidade, gosto de me misturar com a sua gente. Sento-me numa esplanada, peço um chá e uma torrada e deixo-me ficar a escutar as conversas. Em Amarante fala-se do Futebol Clube do Porto mas também se discute a carreira do Amarante Futebol Clube, que lidera o campeonato nacional da 3ª divisão. Discute-se apaixonadamente o projecto de construção da barragem de Fridão e o aumento da cota da barragem do Torrão, obras que, a serem concretizadas, destruiriam grande parte da beleza do vale do Tâmega. Pelas mesas circulam o Jornal de Notícias e a Bola, mas as horas também são passadas a folhear o Jornal de Amarante e o Tribuna de Amarante. Comentam-se as notícias da cidade, lê-se que em breve serão concluídas as obras de reabilitação dos antigos paços do concelho de Santa Cruz de Ribatâmega. “Finalmente!” exclama alguém com ar indignado.

É assim a vida em Amarante, é assim a vida em qualquer cidade em que as pessoas tenham orgulho em viver.

De regresso à Amadora pensei no quão longe estamos daquela realidade. Falta-nos o Marão, falta-nos o Tâmega, mas falta-nos, infelizmente, mais do que isso.

Se conseguir encontrar uma esplanada frequentável, o que só por si não será tarefa fácil, ouvirei discutir o Benfica e o Sporting, mas dificilmente alguém se debruçará sobre o último jogo do Estrela da Amadora, clube que apesar de tudo está entre os maiores do nosso futebol. Ao meu lado, estará alguém a folhear apressadamente o Metro, o Destak ou o Dica da Semana, mas ninguém folheará o Grande Amadora, que já acabou, o Notícias da Amadora, cuja versão impressa já não se publica ou Jornal da Amadora, que embora exista ninguém lê.

Há na Amadora um profundo défice de amor pela cidade. Quantos de nós já visitaram os aquedutos e as mães de água que se espalham pelo concelho? Quantos de nós já tiveram oportunidade de conhecer a Necrópole de Carenque? Quantos de nós já se aventuraram num passeio pela lindíssima Mata da Fonte Santa? Quantos de nós tentaram visitar um moinho de vento, ex-libris deste concelho? Quantos de nós passearam recentemente pelo Jardim das Águas Livres? Quantos de nós se sentaram na esplanada do Parque Central, lendo um belo livro e observando os patos que passeiam as suas crias?

Imagino que poucos Amadorenses o tenham feito. Mas quem tentar fazê-lo vai, invariavelmente, bater com o nariz na porta. É que o aqueduto está fechado, a Necrópole de Carenque está vedada, a Mata da Fonte Santa está abandonada, os moinhos de vento estão em ruína, o Jardim das Águas Livres é uma fortaleza impenetrável e a esplanada do Parque Central, propriedade da autarquia, foi fechada há vários anos. São portanto as instituições e, muito em particular, a Câmara Municipal da Amadora quem promove o DIVÓRCIO entre os cidadãos e a cidade.

A nossa história, o nosso património, as nossas tradições – traços de que se faz a identidade de um povo – são considerados coisa menor. Detalhes irrelevantes, que sucumbem perante a urgência da grande empreitada.

Quanto à imprensa local, o raciocínio rudimentar de muitos dos nossos autarcas leva-os a considerá-la dispensável, a menos que colabore mansamente com o poder. Por outras palavras, jornal que se deixe meter no bolso é para apoiar, jornal que ouse afirmar a sua autonomia face ao poder político é para fechar. É o mesmo Portugal pequenino e bolorento que se revela em episódios como o saneamento político do professor Charrua ou a visita policial à delegação sindical da Covilhã. É um Portugal que mete dó.

João Castanheira

domingo, 21 de outubro de 2007

La Fregeneda - Barca d'Alva

Entre La Fregeneda e Barca d'Alva, ergue-se um dos mais belos trechos de via férrea do mundo. São 17 km de linha, desactivada em 1985, que inclui qualquer coisa como 20 túneis e 13 pontes. Um cenário digno dos mais fabulosos filmes de aventuras.

O passeio ao longo do que resta desta via é glorioso. Caminha-se entre penhascos sobrevoados por imponentes grifos. Atravessam-se pontes em ruína e túneis intermináveis, repletos de morcegos. Genial!

Foram milhares os trabalhadores que permitiram que em 1887 fosse inaugurada esta majestosa obra de engenharia. Uma obra que apesar de construída em Espanha foi planeada e executada por Portugal. Para lá de La Fregeneda, a linha prolongava-se até La Fuente de San Esteban, numa extensão total de 77 Km. Um projecto faraónico que, perfurando montanhas e unindo encostas, permitiria que as mercadorias provenientes de Espanha pudessem ser escoadas por mar, na cidade do Porto. Foi tal a empreitada que a banca portuense entrou em colapso. Eis algumas fotos da caminhada.

João Castanheira

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Vulcão dos Capelinhos

Manhã luminosa no Vulcão dos Capelinhos, Ilha do Faial, Açores:

João Castanheira