sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Pensamento do dia

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Sobre a muito parcial Greve Geral da função pública marcada para hoje, os números do governo apontam para uma adesão média de 20,03% - precisão científica - muito longe dos 80% proclamados pelos sindicatos.
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Pensamento do dia: quando devidamente torturados, os números confessam o que for preciso.

João Castanheira

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Galeria de horrores

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Isto está a ficar mal frequentado.








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João Castanheira

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O convidado

Ele vem aí!
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Rebentou um país - o Zimbabué - que já foi dos mais prósperos de África. Escorraçou fazendeiros por terem fazendas e, sobretudo, por serem brancos. Mandou prender e espancar adversários políticos. Viciou eleições. Obrigou milhões de compatriotas esfomeados a fugirem para os países vizinhos.
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Mas foi convidado e vem aí! O ministro dos negócios estrangeiros de Portugal diz que trará algum ruído à cimeira UE/África. Eu acho que um tiranete racista deste calibre trará infelizmente mais do que apenas ruído. Em boa verdade, cobrirá toda a cimeira com o seu lixo.

A minha homenagem a Gordon Brown, por manter a Inglaterra do lado certo da história. Como é habitual.

João Castanheira

Amadora lidera ranking

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Ainda o estudo europeu sobre criminalidade divulgado pela Deco: a Amadora é a cidade com maior incidência de crimes, não só em Portugal mas em toda a Península Ibérica. A liderança na facada e no gamanço é destacada e não nos deixa longe de Nápoles ou Catania. Estamos, portanto, ao nível das regiões mais mafiosas do sul de Itália e da Sicília. Com tranquilidade.

João Castanheira

Peace and love

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No portal do governo, pode ler-se que "... no contexto da União Europeia, Portugal continua a integrar o grupo de países com índices de criminalidade mais baixos e em que o sentimento de segurança é mais elevado". Lê-se ainda que "... o grau de confiança dos cidadãos portugueses na polícia duplicou nos últimos 5 anos". As palavras são do ministro da administração interna, no debate do relatório anual de segurança, na Assembleia da República. É o relato de um país muito peace and love, mas final parece que não é bem assim.

De acordo com o estudo europeu hoje divulgado pela Deco, 65% dos portugueses sentem-se afinal mais inseguros hoje do que há 5 anos. E mais de metade dos cidadãos vítimas de crime nem sequer apresentou queixa às autoridades, por considerar que a polícia não iria resolver o seu problema. Conclui-se, portanto, que a tão apregoada descida dos índices de criminalidade - a criminalidade declarada - está ligada à perda de confiança nas forças de segurança.

Mais ainda, 60% dos portugueses que se queixaram de um crime não viram o seu problema resolvido. Passados uns meses ou uns anos receberam em casa uma singela notificação policial a comunicar o arquivamento do caso.

O país real é este e não o Portugal cor de rosa do governo rosa.

Mas o inspector-geral da administração interna não encontrou melhor forma para gastar o seu tempo e o nosso dinheiro do que lançar uma campanha contra as forças policiais. Disse há uns dias: "Há por aí muita cowboyada de filme americano na mentalidade de alguns polícias... há muita impertinência da parte da polícia, intolerância, impaciência... incompetência ".

E eu que pensava que a prioridade do senhor inspector-geral era ajudar a polícia a encontrar os meios e a autoridade de que precisa para combater o crime.

João Castanheira

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Cegueira política

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A cegueira política de Vital Moreira começa a ganhar contornos patológicos.

Segundo diz o senhor professor, a concessão da rede rodoviária nacional à Estradas de Portugal não vai custar um euro a mais aos portugueses e vai até render aos cofres do Estado vários milhões anuais a pagar pela concessionária.

O Vital que me desculpe, mas para que a concessionária entregue ao Estado um euro que seja, terão que ser os portugueses a pagá-lo. É que ao longo das próximas décadas as receitas da concessionária continuarão a resumir-se aos impostos pagos pelos portugueses.

Pode o Vital defender que a concessionária desate a portajar o país, inaugurando um muito socialista princípio do utilizador - duas vezes pagador. Talvez, quem sabe, se possa instalar uma portagem na estrada nacional 229, entre Penedono e Sernancelhe. Mas ainda assim continuarão a ser os desgraçados dos portugueses a pagar.

Há coisas que nem o douto contorcionismo deste académico coimbrão consegue explicar: aparece mais dinheiro nos cofres do Estado mas ninguém o paga.

Sejamos justos: a haver remodelação governamental o senhor professor vai a ministro. Já merece.
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A não ser que até lá volte a mudar de partido.
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João Castanheira

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Hoje há ditador para jantar.


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Hoje temos ditador para jantar. Servido com honras de estado e antecedido por entradas de nostalgia.

E que viva a revolução! A dos outros é claro.

Luís Manuel Guarita

sábado, 17 de novembro de 2007

BD


Quando a Banda Desenhada se transforma numa arte e a arte num prazer. Blueberry - Charlier e Giraud.

Luís Manuel Guarita

Coisas que recomendo.


Duas coisas de que muito gosto e recomendo. Um livro de Jorge Luís Borges - Ficções, aqui na capa da Penguin, e um poema de Frederico Garcia Lorca, Romance Sonámbulo do Romancero Gitano, aqui apenas a primeira parte e na versão original.

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

Luís Manuel Guarita

Este é para os meus amigos.


Quando eu cheguei aos REM já vocês lá estavam há algum tempo. Cheguei vindo de paragens bem mais inóspitas (musicalmente falando) que vocês recordam e que eu não admito, mas cheguei e quando cheguei mudei. Não sei se foi a força da música ou sua beleza especial, não sei se foram vocês, se foi o tempo em particular, não sei e confesso que nem me interessa particularmente, apenas me apetece recordar aquele tempo em si mesmo. O tempo em que aprendi convosco a gostar de REM e de tantas outras coisas, a memória do que fizemos e do que crescemos, a recordação dos momentos em que primeiramente aprendi que a amizade vale por uma ou várias vidas e que nessa amizade estão todos vós.

E é por isso, e porque a música é intemporal, que vos deixo, nesta curta viagem ao passado, a recordação deste disco e dos tempos que a ele associo.

Ao Paulo, ao João Paulo, ao Luís, ao Chico, ao Miguel e ao Quim. Para tornar a ouvir e sorrir ao futuro!

Luís Manuel Guarita

A seguir em nossas casas!

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É genético! Para que se leve às últimas consequências a tragédia do aborto faltaria somente um passo. O Sr. Ministro resolveu dá-lo. Já não bastava a demissão assumida do Estado em ter a defesa da vida humana como princípio inalienável da sua acção. Agora, para garantir que a morte é um princípio bem mais valioso e que definitivamente a nossa matriz sociocultural se deve basear no abismo do relativismo mais puro e duro, resolveu-se avançar em definitivo para dentro das nossas casas. Em absoluto o Estado em nós e nós totalmente no Estado.

Entre a ética assumida como responsabilidade e a lei interiorizada como dever cego, optou-se pela segunda. Entre a defesa do mais precioso bem que nos é dado - neste caso em particular tendo como pano de fundo um juramento com mais de 2500 anos - a vida, e o fascínio mórbido da morte, impõe-nos o Estado a morte, cuidando de, pelo caminho e caso não tomem esta opção, punir as consciências daqueles que se situam na primeira linha da defesa da vida, os médicos.

Quem não percebe que acima da lei deve estar a ética e que a ética remete para o mais íntimo de cada um de nós, tratando-se por isso de um património intocável, não percebe que o Estado deve ter limites e que esses limites não podem ser ultrapassados.

Que o estado queira impor uma cultura de morte aos seus cidadãos já o acho tenebroso, mas que o queira impor a cada consciência individualmente, acho-o horrendo.

Por isso, entre uma lei que defende a morte e uma ética que preserva a vida, não tenho dúvidas na escolha, há no entanto quem tenha, logo, parece-me que, prosseguindo por este caminho, a seguir é em nossas casas que se legislará.

Luís Manuel Guarita

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Estradas de Portugal: rabo escondido com o gato de fora


Curiosa esta alteração de estatuto da Estradas de Portugal, organismo que pela mão do muito activo ministro das obras públicas passou de empresa pública a sociedade anónima de capitais totalmente públicos.

De acordo com o ministro, não há por trás da decisão do governo qualquer intenção de privatizar a empresa. Ainda de acordo com o mesmo ministro, não há nesta operação qualquer truque orçamental destinado a reduzir artificialmente o défice público. Por outro lado, asseguram os socialistas que a Estradas de Portugal continuará a construir as vias que os governos do país definam e que nenhuma nova portagem será introduzida sem a necessária decisão política.

Em resumo, fazendo fé no governo do eng.º Sócrates tudo ficará exactamente na mesma. Mas se tudo ficasse exactamente na mesma porquê a mudança? Aperta-se um bocadinho e os ministros e secretários de estado começam a patinar.

Aos poucos, vai-se fazendo luz.

Em simultâneo com a alteração do estatuto da empresa, o governo concessiona à Estradas de Portugal toda a rede viária nacional por um período de 75 anos. Para justificar a atribuição duma concessão por quase um século, o ministro das obras públicas fala em solidariedade entre gerações. Na concepção do ministro, por solidariedade entre gerações entende-se que ele decide hoje como serão geridas todas as estradas do país ao logo dos próximos 75 anos, privando de qualquer capacidade de decisão não apenas os próximos governos, mas também os nossos filhos, os nossos netos, os nossos bisnetos... Que estranha forma de solidariedade. Eu chamar-lhe-ia antes um fardo para as próximas gerações.

E, afinal, o que o governo garante é que a Estradas de Portugal não será privatizada até ao fim da presente legislatura. Por outras palavras, o governo concessiona um bem público por 75 anos e compromete-se a não privatizar a beneficiária da concessão durante os próximos 2. Brilhante.

Aquilo que está em marcha é, portanto, a primeira fase da privatização de uma empresa que terá a seu cargo a gestão de 16.500 km de estradas nacionais, praticamente até ao fim do século. É rabo escondido com o gato de fora.

E eu, que sou um liberal no domínio económico, assisto estarrecido a esta febre privatizadora do governo socialista. Ver um ministro dum governo alegadamente de esquerda, um ex-comunista em boa verdade, ultrapassar-me muito pela direita é algo que começa a pôr-me os cabelos em pé.

Para um liberal faz sentido que o Estado seja magro e eficiente, que legisle e regule, que defenda o interesse dos cidadãos mas que se abstenha de participar directamente em actividades económicas. Para um liberal, faz sentido que a economia esteja nas mão dos privados, porque essa é a melhor forma de assegurar a concorrência entre agentes do mercado, proporcionando aos cidadãos melhores serviços aos melhores preços.

Mas que sentido faz a privatização apressada das redes energéticas nacionais ou a privatização escondida da rede rodoviária do país? São infra-estruturas estratégicas e únicas onde, por definição jamais existirá concorrência. Assistimos à privatização da REN e ao início da privatização da Estradas de Portugal, mas em simultâneo temos um governo que insiste em manter integralmente pública a RTP, uma empresa de rádio e televisão que actua num verdadeiro mercado, mas que se mantém sob domínio do Estado para assegurar a propaganda oficial do governo.

A estratégia deste governo é sórdida e está a hipotecar definitivamente o futuro de Portugal. Tomam-se decisões que comprometem o país por um século, com o objectivo de mascarar o défice público dos próximos anos e engordar grupos económicos que vivem pendurados nos grandes negócios com o Estado. Por este caminho, Portugal vai acabar.

O último a sair que apague a luz.

João Castanheira

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

DerrOTA à Vista?

Por estes dias, há um sobressalto que agita as hostes socialistas. Sente-se no ar a angústia que se apoderou de alguns dos espíritos mais iluminados da nossa esquerda.

A dúvida instalou-se, sobretudo, no dinâmico sector empresarial rosa, boa parte do qual vive pendurado nos grandes negócios com o Estado. Então e se o primeiro-ministro estiver mesmo a equacionar a hipótese Alcochete? Então e se o estudo encomendado ao LNEC for de facto sério e para levar a sério? É que em 2009 há eleições para ganhar, logo os portugueses não podem ser forçados a engolir a Ota a qualquer preço. O pânico está instalado.

Depois de revelada a hipótese Alcochete, cedo se percebeu que o estado-maior rosa tinha entrado em roda livre. No último verão, o dr. Almeida Santos acenava ao país com o perigo de dinamitagem das pontes sobre o Tejo. Um verdadeiro western à portuguesa, dado como provável caso se insistisse na pouco oportuna ideia de construir o aeroporto na margem sul.

“Na margem sul jamais, jamais!”, atirava descontrolado o ministro da obras públicas, para quem a Ota era um compromisso pessoal. Pena é que o compromisso do senhor ministro fosse para pagar com o dinheiro dos contribuintes.

Quando, providencialmente, o primeiro-ministro decidiu decretar uma pausa para reflexão, a Ota estava prestes a ir ao tapete. Havia que reorganizar as tropas, redefinir estratégias e preparar uma resposta firme.

Mas como contrariar o conjunto de factos concretos que a CIP tinha revelado ao país?

1. O campo de tiro de Alcochete é mais perto de Lisboa do que a Ota.

2. Os terrenos de Alcochete são do Estado ao contrário dos da Ota.

3. O campo de tiro de Alcochete é mais plano que o pantanal enrugado da Ota.

4. A área disponível em Alcochete é infinitamente maior do que a nesga de terreno existente na Ota.

Em Alcochete há, portanto, menos obra pública para fazer e menos terrenos para expropriar, logo menos clientela para alimentar.

Sobram as gravuras rupestres, as pegadas de dinossauro, a rota migratória das galinhas, os aquíferos, os sobreiros, os morcegos, o porco preto e a caracoleta... Não se encontrou nada? Há que procurar melhor!

Nos gabinetes da alta finança e nalgumas obscuras repartições do Estado trabalha neste momento um batalhão de consultores, engenheiros, biólogos, peritos, amigos e primos a cozinhar uma contra-argumentação de emergência. O objectivo é desmontar o estudo da CIP, custe o que custar.

Há uns dias, as construtoras lançaram a ideia peregrina dum pacto de regime sobre as grandes obras públicas. Trocando por miúdos, PS e PSD entendem-se previamente sobre o banquete – aeroporto incluído – e o país cala definitivamente a boca. Por ser demasiado escandalosa a coisa não passou.

Ontem, o inevitável Vital Moreira voltou a terreiro no seu blogue Causa Nossa, rejubilando com um alegado comunicado da Rave. Ao que parece, a empresa tutelada pelo ministro das obras públicas tinha encontrado imprecisões no estudo da CIP. “O estudo começa a afundar-se no ridículo” decreta prontamente o mais socialista dos ex-comunistas, um eminente constitucionalista que aos poucos se vai transformando numa sumidade do sector aeroportuário.

No dia anterior, o ex-ministro socialista Daniel Bessa tinha sido honesto e frontal como é seu timbre, indo directamente ao cerne da questão. Na primeira página do caderno de economia do semanário Expresso escrevia que muitas entidades “fizeram projectos, adquiriram terrenos, firmaram contratos”, convencidas da construção do aeroporto na Ota. Esse é, verdadeiramente, o problema.

Pouco importa o dinheiro e o interesse público. Ainda que estejamos a falar de milhares de milhões de euros e do futuro do país, o que parece de facto importar são os interesses particulares de meia dúzia de predadores que se precipitaram para a Ota, rapidamente e em força. Os suspeitos do costume.

João Castanheira

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O Bloco e a Bandidagem

Ao longo dos últimos meses, a Itália tem sido atingida por uma série de crimes violentos, muitos deles praticados por cidadãos estrangeiros. No mais recente episódio desta vaga de insegurança que ameaçava fugir ao controlo das autoridades, uma mulher foi violada e esfaqueada até à morte numa rua de Roma. O crime, hediondo e intolerável, foi praticado por um imigrante romeno.
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Face à onda de violência emergente e à pressão de uma opinião pública crescentemente intranquila, o governo italiano, por sinal dirigido por um socialista, decidiu acelerar a aprovação de um conjunto de medidas destinadas a garantir a segurança dos cidadãos. Dos italianos e dos outros – os imigrantes que residem em Itália e os milhões de turistas que visitam o país.

O decreto-lei agora aprovado permite que as autoridades expulsem os cidadãos estrangeiros que cometam crimes em Itália. É uma medida do mais elementar bom senso. Previne o crime, protege os cidadãos, castiga os criminosos e, sobretudo, defende as comunidades imigrantes contra o potencial surgimento de reacções de carácter racista ou xenófobo. É que, como é óbvio, se nada fosse feito começariam em breve a ouvir-se vozes contra a comunidade romena no seu todo. Pagariam os muitos romenos cumpridores pelos poucos que desafiam a lei do país que os acolheu.

Como seria de esperar, a decisão do governo italiano provocou uma reacção virulenta da esquerda radical, entre nós representada pela rapaziada do Bloco de Esquerda, que a seguir a um par de charros e uma jantarada no Gambrinus está sempre disponível para uma mãozinha à bandidagem.

No seu muito visitado blogue, o Daniel Oliveira dá voz ao que vai na alma da nossa esquerda caviar. Nem uma linha sobre a jovem violada e esfaqueada até à morte. Nem uma palavra sobre a falta de segurança que tolhe a liberdade e ceifa a vida de cidadãos inocentes. Só inquietação quanto ao futuro da bandidagem.

Escreve o Daniel que o governo italiano reagiu a um crimezito pontual com “medidas a pensar em todo um grupo e mandou a cidadania europeia às urtigas”. Sugere ainda o Daniel, numa agastada resposta ao comentário de um leitor, que é contra o repatriamento de estrangeiros porque representa a punição colectiva de raças!!! Et voilà, a medida do governo italiano é racista... Será que aos olhos do Daniel Oliveira os delinquentes constituem uma raça?

Ao contrário do que muito gostaria o nosso Daniel, a lei italiana não afecta os imigrantes em geral. Afecta sim os criminosos – assaltantes, violadores, traficantes, assassinos. Saem a ganhar todos os outros cidadãos, sejam eles italianos ou imigrantes residentes em Itália.

Mas e a bandidagem, quem vela pelos interesses da bandidagem? O Bloco, claro está!

Sintomaticamente, o blogue do Daniel Oliveira chama-se Arrastão, designação que evoca nostalgicamente os assaltos em massa que se tornaram imagem de marca do Rio de Janeiro. Uma espécie de desporto radical em que uma horda de marginais drogados escorrega morro a baixo roubando, ferindo ou matando tudo quanto se atravesse à sua frente.

Para que se entenda a atitude laxista e irresponsável dos nossos bloquistas é importante caracterizar o representante típico da esquerda caviar. É, em regra, professor universitário. Mais do que bem instalado na vida, está pregado a uma universidade pública e debita uns bitaites bem pagos num ou noutro órgão de comunicação social. Observa a criminalidade da varanda do apartamento, da janela do automóvel ou da montra do restaurante. E bate-lhe palmas pelo que ela representa de subversão do sistema democrático.

O problema é que, embora à distância se deleite com as “democracias progressistas" da América do Sul - Hugo Chávez à cabeça - a esquerda caviar monta-se na liberdade e no estilo de vida que constituem património inalienável das sociedades democráticas ocidentais. O típico intelectual bloquista colecciona recuerdos da revolução cubana e pragueja contra o “imperialismo” americano, mas sempre que pode vai às compras a Nova Iorque ou passa um fim-de-semana em Londres.

É o insanável paradoxo dos nossos trotskistas recauchutados. Vivem à conta do sistema que parecem querer desmantelar.
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João Castanheira

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A esquerda e o seu labirinto


É ler este livro, que até é escrito por alguém insuspeito, de esquerda e com credenciais firmadas, para perceber até que ponto a esquerda actual e, em boa verdade, a esquerda de todos os tempos, mais do que uma ideia de futuro, é uma reacção ao presente. Um lugar onde a obsessão e o ódio ao contrário são as verdadeiras e sempre legítimas armas ao serviço do argumento e onde a vitória das convicções é um mero detalhe quando comparado com a necessidade de derrotar e sobretudo vergar o oposto.
A esquerda no seu labirinto, ou a verdade para além da fantasia! Para ler e perceber.
Luís Manuel Guarita

sábado, 3 de novembro de 2007

A Um Deus Desconhecido

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É um disco intemporal. É, provavelmente, a mais bela e genial colecção de canções que alguma vez se escreveu em Portugal. O primeiro álbum da Sétima Legião foi um rasgo de génio sem paralelo, um momento ímpar de inspiração – criatividade em estado puro.

A obra vale por si. As canções resistiram ao tempo, amadureceram e transformaram-se em clássicos, mil vezes revisitados por uma imensa minoria.

A Um Deus Desconhecido é uma obra de rotura, um disco afrente do seu tempo. Quando foi editado, em 1984, vivia-se a ressaca do boom do rock português. Eram as chicletes e os patchoulys, todo um universo musical dominante onde não encaixava a estética vanguardista e a atmosfera sufocante que caracteriza o álbum da Sétima Legião.

A Um Deus Desconhecido fará em breve vinte e cinco anos. Uma efeméride que importa celebrar. Ao génio criativo do Rodrigo Leão, do Pedro Oliveira e dos restantes membros da banda ficamos a dever muito do que tem sido a melhor música moderna portuguesa. A eles e à lendária Fundação Atlântica, editora independente criada pelo Miguel Esteves Cardoso, pelo Pedro Ayres Magalhães e pelo Ricardo Camacho.

A Fundação Atlântica foi a nossa Factory, uma extraordinária aventura editorial que durou menos de três anos. Uma vida demasiado curta, mas ainda assim suficiente para nos legar, entre outros, um tesouro chamado A Um Deus Desconhecido. A banda sonora de uma geração.

João Castanheira