segunda-feira, 28 de julho de 2008

Salvar o Mercado de Kinaxixe


O Mercado de Kinaxixe, em Luanda, é uma das mais emblemáticas e importantes obras de arquitectura moderna em todo o mundo de expressão portuguesa.

Inaugurado em 1958, este fantástico edifício foi projectado por Vasco Vieira da Costa, arquitecto angolano de origem portuguesa, que teve o raro privilégio de trabalhar no escritório de Le Corbusier até ao início da década de 50.

Apontado, em todo o mundo, como um dos mais notáveis exemplos da arquitectura tropical, o Mercado de Kinaxixe é uma pérola do património cultural angolano.

Lamentavelmente, o edifício está hoje entaipado e aparentemente condenado a uma quase inevitável demolição.

A arquitecta Ana Vaz Milheiro lança, no Público de hoje, um apelo sentido e urgente: “Quem quer salvar o Kinaxixe?”.

É preciso sensibilizar as autoridades angolanas para a importância ímpar deste património, mas é também necessário que Portugal adopte uma postura activa na salvaguarda da memória colectiva dos dois países, ajudando a preservar algumas das obras arquitectónicas de referência construídas em Angola durante o século passado.

Por isso, Ana Vaz Milheiro avança com uma ideia brilhante, que o governo português deveria agarrar rapidamente: a construção de uma grande casa da cultura portuguesa no Mercado de Kinaxixe, bem no centro de Luanda.

Porque a defesa da língua e da cultura portuguesa não se faz apenas nos discursos políticos. Faz-se, sobretudo, com gestos e projectos concretos e ambiciosos.

Alguém faça alguma coisa antes que seja tarde demais.

João Castanheira

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O memorável concerto dos Kings of Convenience


Genial!

Os Kings of Convenience tocaram esta noite na Cidadela de Cascais, integrados no programa do CoolJazzFest 2008.

Não tenho memória de um concerto assim.

Aquilo que se ouve nos álbuns destes dois rapazes de Bergen é mesmo verdade: uma guitarra folk, uma guitarra clássica e duas vozes chegam para encher o palco, parecendo por vezes transformar-se numa orquestra inteira.

Já a festa ia ao rubro quando subiram ao palco dois amigos – um italiano e um alemão – acompanhados por um contrabaixo e um violino. Todos juntos, fizeram de Stay Out of Trouble um dos momentos mais memoráveis a que alguma vez assisti num concerto.

O que não estava no programa era o KO da guitarra de Erlend Øye, para a qual não havia substituto. A partir daí, os Kings of Convenience aceleraram para um imparável festival de improviso e diversão. Sem as cordas de aço, Erlend decidiu encher o palco a dançar e a “tocar” um genial mouth trumpet.

No final do concerto, Eirik Glambek Boe ainda encontrou coragem para brindar a audiência com uma versão de Corcovado, sozinho com a sua guitarra clássica.

Os Kings of Convenience são uma das razões para se amar a Noruega. Um país onde há muito mais do que bacalhau...

Que esplêndida noite de verão. Tenho pena de quem não assistiu a isto.

Para os menos atentos, aqui fica um link para Toxic Girl.

João Castanheira

Eça de Queirós


Para quem hoje folheie as páginas que há mais de um século Eça de Queirós nos deixou só pode constatar uma coisa. Aquele homem além de brilhante, era um visionário. Reler o que então escreveu, as opiniões e comentários que magistralmente redigiu sobre o Portugal que éramos é, acreditem, observar o Portugal que hoje ainda somos. Para além da beleza das suas palavras, Eça deixou-nos um retrato intemporal da condição portuguesa e uma análise única, matizada pela sua finíssima ironia e superior erudição.

Mas se a observação das virtudes que Eça tão brilhantemente legou às letras portuguesas só pode ser motivo de orgulho, já os temas que abordou e a similaritude entre a análise que então fez e a que hoje poderíamos fazer ao país, não nos pode deixar senão profundamente prostrados perante a inevitável proximidade entre o país analfabeto de então e o país analfabruto de hoje.

Portugal, de então para cá, deixou de ser uma monarquia decadente, deixou de ser uma republica maçónica e radical, deixou de ser um estado novo miserável e claustrofóbico, deixou de ser uma revolução esquizofrénica e passou a ser uma democracia europeia. Isto tudo em 108 anos e tudo isto para que continuássemos a ser os mesmos...

Talvez tenha que ser assim, talvez seja isto Portugal... Mas pronto, não há que desesperar, ontem como hoje, haja vinhaça, viola e bordoada, que o país continua

E que viva Eça de Queirós!

Luís Isidro Guarita

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Privado, mas pouco...


Há por aí muito quem defenda a privatização da Caixa Geral de Depósitos, com o argumento de que o Estado português deve retirar-se da economia.

Entretanto, soube-se ontem que o Estado angolano é já o maior accionista do principal banco privado português, o Millennium BCP.

Em Portugal, o mercado tem destas coisas...
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Por isso eu defendo que, excepcionalmente, a Caixa Geral de Depósitos deve manter-se uma instituição pública. É que Estado por Estado, prefiro o português...

João Castanheira
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Aditamento: será por a CGD dar um lucro anual de 850 milhões de euros que anda tanta gente interessada em privatizá-la? É que não se vê o mesmo entusiasmo privatizador em relação à Refer ou à CP, essas sim, tradicionalmente mal geridas pelo Estado e autênticos survedouros de dinheiros públicos... Aí é que era precisa uma boa gestão privada.

O retrocesso civilizacional


De acordo com as teses multiculturalistas, alegremente defendidas pelo Bloco de Esquerda e por uma parte importante do Partido Socialista, os emigrantes que chegam a Portugal devem manter intactos os seus estilos de vida, não sendo exigível um verdadeiro esforço de integração na nossa sociedade.

Deveríamos, portanto, aceitar a degola de borregos na via pública, a mutilação genital das mulheres africanas, a poligamia e a burka, já para não falar da ideia peregrina de leccionar aulas em crioulo...

O acolhimento de emigrantes seria assim sinónimo de destruição de uma cultura e um estilo de vida que fomos construindo ao longo de séculos. Um verdadeiro retrocesso civilizacional.

João Castanheira

terça-feira, 22 de julho de 2008

A realidade paralela da RTP

Os primeiros 10 minutos do telejornal de hoje da RTP foram gastos com a notícia da prisão de Radovan Karadzic.

Não foram 2, nem 3, nem 4. Foram 10 minutos, em horário nobre. Uma imparável sequência de directos, imagens de arquivo, testemunhos, opiniões e entrevistas.

Pouco parece importar o caos social na Quinta da Fonte, o mergulho no abismo da Bolsa de Lisboa ou o clamoroso fracasso da PJ no caso Maddie.

Não havendo futebol, arranje-se qualquer coisa capaz de afastar os portugueses da enxurrada que ameaça arrastar o Partido Socialista.

João Castanheira

O Portugal subsidiado

À porta de muitos dos prédios da Quinta da Fonte estão estacionados carros de alta cilindrada.

Alguns dos moradores que sairam do bairro lamentam o roubo dos seus plasmas e leitores de DVD.

Mas, de acordo com a Câmara Municipal de Loures, 90% da população activa residente na Quinta da Fonte vive do Rendimento Mínimo Garantido.

E 95% das famílias ciganas que abandonaram o bairro nunca pagaram a renda de casa nem a conta da água.

Isto apesar de beneficiarem de rendas sociais, na maioria dos casos com o valor de 4,26 € por mês.

Tudo isto começa a revoltar o Portugal que trabalha. O Portugal que vai pagar 25o.ooo euros pela reparação das casas vandalizadas.
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E que, por acaso, é o mesmo Portugal que teria que pagar as casas novas exigidas por alguns dos moradores da Quinta da Fonte.

João Castanheira

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sócrates embevecido com Angola


José Sócrates afirmou ontem, em Luanda, que o “trabalho que o governo angolano tem feito é, a todos os títulos, notável”.

Não sei a que trabalho se refere o primeiro-ministro, mas a frase poderia aplicar-se, por exemplo, à forma competente como a elite dirigente angolana suga para os seus próprios bolsos toda a riqueza do país. Talvez não seja possível encontrar em todo o planeta quem tão bem trabalhe este nicho de actividade.

Sócrates acrescentou ainda que Angola tem hoje um enorme “prestígio internacional” e que é “um dos países mais falados e reputados”.

De facto, o prestígio de Angola é enorme. Apesar de ser um dos países mais ricos do mundo, surge invariavelmente no fim da lista do índice de desenvolvimento humano publicada pelas Nações Unidas, lado a lado com os países mais miseráveis de África.

A reputação de Angola – ou do governo angolano – está também acima de qualquer suspeita. Sem eleições desde 1992 e com um Presidente da República no poder há 30 anos sem nunca ter sido eleito, Angola é universalmente aclamada como o paradigma da democracia do futuro.

Este tipo de declarações ultrapassa largamente o pragmatismo diplomático e económico a que o primeiro-ministro está obrigado. Frases como estas ficam-lhe mal e fazem-nos, a todos, sentir muita vergonha.

O mundo inteiro sabe como e com quem se fazem os negócios em Angola. O mundo inteiro sabe para onde vão os biliões do petróleo e dos diamantes. O mundo inteiro sabe porque continua o povo angolano a viver e a morrer na mais obscena miséria.

Por isso, recomendar-se-ia a Sócrates algum recato.

João Castanheira

terça-feira, 15 de julho de 2008

Inversão de valores

Não posso fumar na discoteca. Mas posso drogar-me na cadeia.

A ASAE persegue-me por ser fumador. O IDT ensina os meus filhos a injectarem-se.

Tenho que esperar três anos para ser operado às cataratas. Mas, se lhe der para isso, a minha mulher pode abortar de urgência num hospital público.

Pela minha operação às cataratas, pagarei uma taxa moderadora. Já o aborto livre está isento de qualquer taxa.

Se o meu filho for às aulas e se aplicar a fundo vai conseguir passar de ano. Se não puser os pés na escola passa na mesma. Caso nem sequer se tenha inscrito, pode sempre obter o diploma do 12º ano numa entrevista das Novas Oportunidades.

Se eu deixar de trabalhar e montar uma barraca, recebo o rendimento mínimo garantido e uma casa de graça. Mas se me esfolar a trabalhar para pagar o apartamento que comprei, pago 42% de IRS, 11% para a Segurança Social, mais o IMT, o IMI, o imposto de selo e os juros bancários galopantes.

Se montar um negócio de pequeno tráfico e tiver cuidado com a quantidade de droga que transporto, o mais certo é que não me aconteça nada. Mas se abrir uma fábrica de produção artesanal de amêndoas de Portalegre, a ASAE acaba-me com o negócio.

João Castanheira

domingo, 13 de julho de 2008

Brandos costumes

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O caldo social que o país tem vindo a cozinhar ao longo dos últimos anos rebentou esta semana. Foi no bairro da Quinta da Fonte, em Loures, mas poderia ter sido noutro subúrbio qualquer.

O país dos brandos costumes parece ter sido surpreendido com aquelas imagens de guerrilha urbana. Um tiroteio com armas de guerra em plena via pública, que trás à memória a anarquia reinante nos morros favelados do Rio de Janeiro.

Mas, em boa verdade, não há razão para surpresa.

Mais de 30 anos de complexos de esquerda, conduziram ao enfraquecimento e à desautorização das forças de segurança. Nos dias que correm, polícias de bicicleta e calção fingem patrulhar ruas onde circulam bandidos armados até aos dentes.

A desculpabilização do crime e o excesso de lotação das cadeias despejam na rua, todos os dias, assassinos, traficantes, ladrões e violadores. Marginais que se riem da debilidade das forças de segurança e que brincam com a inoperância da justiça.

Uma política de realojamento anacrónica amontoou em gigantescos bairros sociais – como a Quinta da Fonte – milhares de pessoas que são condenadas viver cercadas pelo crime, em guetos que se tornaram autênticas escolas de marginalidade.

Finalmente, uma política de emigração excessivamente permissiva e irresponsável, criou expectativas de acolhimento a centenas milhar de emigrantes que o país não tem, infelizmente, condições para receber.

O resultado está à vista e deixa-nos, a todos, de cabelos em pé.

Mas, tal como sucedeu com o arrastão da praia de Carcavelos, não me admiro que apareça por aí uma Ana Drago qualquer a negar a ocorrência deste episódio. Terão, eventualmente, sido dois ou três meninos que se envolveram numa inocente luta de bisnagas.
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Qualquer outra leitura será considerada pela nossa esquerda como alarmista, xenófoba ou racista.

João Castanheira

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Arte Nova em Aveiro


Cem anos após a construção, a Casa Major Pessoa, em Aveiro, recuperou o esplendor de outrora.

Para quem se interessa por arquitectura e património, vale a pena visitar aquela que é a jóia da coroa da Arte Nova aveirense. Uma construção que surpreende pelas linhas ondulantes, os ferros forjados, a pedra trabalhada e os riquíssimos painéis de azulejos.

Aveiro é, provavelmente, a capital nacional deste estilo arquitectónico, pelo que se saúda o irrepreensível trabalho de recuperação levado a cabo pela Câmara Municipal e, sobretudo, a ideia de transformar a Casa Major Pessoa no Museu Arte Nova.

Agora, depois de um passeio de moliceiro na ria e uma barrigada de ovos-moles, nada melhor que um mergulho nesta fantástica obra de Francisco da Silva Rocha e Ernesto Korrodi.

Por momentos, a visita à Casa Major Pessoa transporta-nos à Casa Batlló, obra-prima que Antoni Gaudí ergueu no Passeig de Gràcia em 1906.

Aveiro está melhor do que nunca.

João Castanheira

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O sorriso de Ingrid

Há momentos que entram instantaneamente para a história.

A libertação de Ingrid Betancourt e dos seus companheiros de cativeiro é um desses momentos mágicos. Um daqueles instantes que ficam gravados na memória de quem tem o privilégio de os testemunhar, ainda que à distância de milhares de quilómetros.

O sorriso de Ingrid trouxe-me à memória um outro momento mágico – a libertação de Nelson Mandela. Depois de quase 30 anos encarcerado, Mandela quis deixar a prisão caminhando a pé, sorrindo... Foi uma caminhada plena de significado: para trás ficava um passado de sofrimento e qualquer ressentimento ou desejo de vingança. Ali começava o futuro e o futuro passava, necessariamente, pela reconciliação. Só um homem grande, talvez o maior de todos os homens do nosso tempo, poderia dar ao mundo semelhante lição.

Ontem, em apenas 22 minutos e 13 segundos, as forças armadas e os serviços secretos colombianos puseram fim a 2321 dias de cativeiro. Sem um único tiro, através de uma operação de libertação genial, que há-de, também ela, ficar para a história.

Durante mais de 6 anos, Ingrid Betancourt foi mantida em cativeiro por um bando de terroristas selvagens, raptores desumanos e traficantes de droga – as FARC – organização criminosa que continua a seduzir uma parte da nossa esquerda mais radical.

Há pouco mais de um mês, o PCP tinha subscrito, em conjunto com outros partidos comunistas da União Europeia, um documento apelando a que as FARC fossem reconhecidas como combatentes e imediatamente retiradas da lista europeia das organizações terroristas... Serão o quê então?

Ingrid lutou, resistiu, sobreviveu... E ontem saiu a sorrir. Obrigado Ingrid.

João Castanheira

Exames tipo Totobola

Maria Filomena Mónica é uma das mulheres mais cultas e interessantes deste nosso pobre país.

Conforme se conta no Público de hoje, a socióloga decidiu mergulhar nos programas e nos exames nacionais de Português do ensino básico e secundário. E ficou estarrecida.

Concluiu que os actuais exames de Português “poderiam ser facilmente substituídos por uns papeluchos como os do totobola, nos quais os alunos fariam ao acaso umas cruzinhas, sendo estas posteriormente contadas por uma máquina”.

Para Maria Filomena Mónica, e para todos nós, a mutilação dos exames foi deliberadamente planeada, no sentido de os tornar mais simples.

“A responsabilidade pelo desastre – porque é de um desastre que se trata – é, em primeiro lugar, de Maria de Lurdes Rodrigues, uma ministra cujo objectivo passou a consistir em baixar o insucesso escolar por via burocrática”.

Mais do que um desastre, trata-se de um crime!

João Castanheira

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A taxa "Robin dos Bosques"

O primeiro-ministro admitiu ontem estar a estudar a criação da chamada taxa “Robin dos Bosques” – um imposto especial a aplicar aos lucros das empresas petrolíferas, cuja receita seria usada no apoio aos mais desfavorecidos.

Apesar da sua natureza propagandística, a medida pode até parecer justa, tendo em conta o aumento dos lucros declarados pelas petrolíferas. Mas, em boa verdade, quem irá pagar a taxa “Robin dos Bosques”?

Tratando-se de um custo adicional para as empresas, é óbvio que no dia em que a taxa for criada – ou até antes disso – as petrolíferas vão aumentar o preço dos combustíveis, de forma a não saírem prejudicadas.
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É que o mercado dos combustíveis é livre e, nessa medida, qualquer custo adicional que o governo imponha aos operadores será, de uma forma ou de outra, repercutido nos consumidores.

Na prática, a taxa “Robin dos Bosques” representará, ainda que de forma encapotada, um novo aumento da carga fiscal sobre os combustíveis. Será, portanto, paga pelos já depauperados consumidores.

Isto faz lembrar a brilhante ideia de acabar com o chamado “Aluguer do Contador” no fornecimento de água. Ao acabar com uma receita que não era sua, os socialistas esqueceram-se que os municípios e as empresas que operam no sector da água não podem viver sem cobrar o serviço que prestam. No mesmo dia, os operadores do sector lançaram a “Taxa de Disponibilidade” e os consumidores continuaram a pagar exactamente o mesmo.

O que ganhará o país com este tipo de palhaçadas?

João Castanheira