terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Agora aguentem-se...


O presidente da petrolífera estatal angolana – Sonangol – disse ontem que é o patrão da Galp e, por isso, a empresa portuguesa tem que lhe obedecer.

Há quem se tenha sentido chocado com a afirmação, mas a verdade é que Manuel Vicente tem toda a razão. O estado angolano não tem culpa que lhe tenhamos posto nas mãos a maior empresa portuguesa.

Em 1990, o governo português decidiu privatizar a Petrogal, com o argumento de que o estado deveria abster-se de participar directamente na economia. Menos de 20 anos depois, a Galp é agora propriedade do estado angolano (e do estado italiano).
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A privatização resultou, na verdade, numa semi-estatização. Só que o controlo accionista passou do estado português para o estado angolano (e italiano).
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Esta não é uma situação única. Um pouco por todo o mundo ocidental, as empresas mais relevantes estão a ser tomadas pelo dinheiro de estados onde não impera a transparência. O sector bancário, o imobiliário, o turismo e a energia são apenas alguns exemplos de áreas hoje dominadas pelos capitais públicos da China, da Arábia Saudita ou até de Angola.

E esta é apenas a face menos negra do problema. Com os dinheiros públicos, chega um sub-mundo empresarial onde pontificam príncipes árabes e filhos de ditadores africanos, cuja fortuna não foi feita a trabalhar.
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Agora aguentem-se...
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João Castanheira

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A herança de Fidel

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A "revolução cubana" é propriedade da carcaça moribunda de Fidel Castro. Em boa verdade, toda a ilha lhe pertence.
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Agora que os restos do "revolucionário" já pouco mexem, Fidel elegeu como herdeiro o seu decrépito irmão.
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Como se faz com qualquer propriedade, Fidel deixa a ilha e o povo como herança à família.
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O lado bom desta história, que há 50 anos espalha miséria pelo país, é a confirmação de que os ditadores comunistas valorizam cada vez mais um conceito que outrora desprezavam - a família.
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Na Coreira do Norte, Kim Il Sung deixou as ruínas do país como herança ao filho. Em Cuba, Fidel elegeu o irmão para herdeiro.
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Cantemos A Internacional.
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João Castanheira

domingo, 24 de fevereiro de 2008

O dicionário Sócrates


O governo Sócrates tem acrescentado algumas expressões ao léxico português. Eis 2 exemplos, ambos na área da batota politico-administrativa:

NOVAS OPORTUNIDADES: projecto que visa melhorar artificialmente as estatísticas nacionais na área da educação, mediante a atribuição instantânea de diplomas escolares a iletrados. É uma espécie de graduação honoris causa em massa ou formação Farinha Amparo.

PIN: mecanismo que visa autorizar a construção de loteamentos em cima da reserva ecológica nacional, contornando os constrangimentos legais à urbanização das nossas praias. É um moderno instrumento de gestão territorial, que tem como objectivo prioritário algarvizar (betonar) a costa alentejana.

João Castanheira

sábado, 23 de fevereiro de 2008

God Bless America


Faltam mais de 8 meses para que os Estados Unidos tenham um novo presidente, mas todos os dias parece que as eleições são amanhã.

Para já, apenas se escolhe o candidato de cada um dos grandes partidos. Mas o espírito da democracia americana há muito que tomou conta das casas, das ruas e dos bairros de todo país. E aos poucos vai contagiando o mundo inteiro. Ou pelo menos a metade do mundo que se revê em valores como a democracia e a liberdade.

Com os defeitos que têm, e são muitos, os Estados Unidos continuam a ser a pátria da esperança, a terra de todas as oportunidades. O próximo presidente será, muito provavelmente, um negro, filho dum emigrante queniano que a América soube receber e integrar. Se assim não acontecer, os Estados Unidos poderão ter como presidente uma mulher. Mas seja ele, seja ela ou não seja nenhum dos 2 – como espero – estas eleições são já uma enorme lição.

O entusiasmo é tão contagiante que nem mesmo a esquerda caviar, orgulhosamente anti-americana, consegue esconder a excitação. Será desta que vão perceber que, com ou sem Bush, é nos Estados Unidos que estão os valores da nossa civilização?
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João Castanheira

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O BCP e o Mercado

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Depois de rebentarem com o banco, os 8 administradores que deixaram o BCP em 2007 ofereceram-se a si próprios indemnizações e reformas antecipadas no valor de 80 milhões de euros.
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Por outras palavras, em vez de indemnizarem o banco estes bilionários receberam mais de 2 milhões de contos cada um - coisa pouca - seguramente para premiar o seu excelente desempenho, que é agora do domínio público.
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Em simultâneo, a nova administração do BCP decidiu cortar os dividendos que os accionistas deveriam receber, de modo a compensar o banquete dos antigos administradores.
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Enfim, o mercado tem destas falhas.

Mais um pouco e chegaríamos à humilhação de ter que nacionalizar formalmente o BCP, como aconteceu com o britânico Northern Rock, para salvar as poupanças e os investimentos dos milhares de portugueses que foram escandalosamente enganados nesta hisória sórdida.
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O mercado não é Deus, se é que ainda havia dúvidas.
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João Castanheira

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Entrevista por encomenda

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Tenho pelo Ricardo Costa e pelo Nicolau Santos o respeito que se tem pelos grandes jornalistas.
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Daí que o desempenho de ambos na entrevista de ontem ao primeiro-ministro tenha sido francamente decepcionante. Em alguns momementos, a abordagem servil dos entrevistadores chegou mesmo a ser chocante.
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Macios como não é seu timbre, Ricardo Costa e Nicolau Santos permitiram que José Sócrates fizesse toda a entrevista em ritmo de passeio.
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Não se esperava um julgamento político em directo. Mas havia a expectativa de que o primeiro-ministro fosse confrontado com as questões incómodas que o país, claramente, quer ver respondidas.
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Mas não. Tudo aquilo pareceu milimetricamente encenado. Deu a ideia de que existia um guião, do qual os entrevistadores não se podiam afastar. Um conjunto de perguntas combinadas e uma sequência de respostas decoradas.
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A entrevista transformou-se num miserável exercício propagantístico e de limpeza de imagem. Que ficou mal aos entrevistadores e, sobretudo, ficou muito mal à SIC.
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Ao primeiro-ministro, pelo contrário, já nada fica mal.
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Confrontado com uma taxa de desemprego de 8% - a maior dos últimos 21 anos - Sócrates respondeu que a sua política de emprego é um sucesso. Diz que criou 94.000 postos de trabalho, não interessando que o número de desempregados seja cada vez maior ou que o emprego seja mais precário e instável do que nunca. E assim se arrumou o tema, sem uma insistência, sem um apertozinho. Não terá ocorrido aos entrevistadores que há 3 anos atrás José Sócrates considerava trágico que a taxa de desemprego tivesse atingido os 7,1%?
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Quanto ao desempenho económico da país, Ricardo Costa e Nicolau Santos passaram pelo tema como cão por vinha vindimada. Sócrates diz que crescemos 1,9%, ultrapassando a previsão do governo. Na sua perspectiva foi mais um enorme sucesso. E os entrevistadores não o lembraram que continuamos, portanto, a divergir da Europa, já que crescemos muitíssimo menos do que praticamente todos os nossos parceiros europeus.
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Ricardo Costa e Nicolau Santos permitiram ainda que o primeiro-ministro se agarrasse com a habilidade habitual ao controlo do défice orçamental do Estado. Esse é, obviamente, o único verdadeiro sucesso deste governo, mas porque não recordar que foi conseguido à custa do aumento dos impostos e logo à custa da quebra duma promessa eleitoral?
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Quanto aos recuos do governo em matéria de obras públicas ou à rebelião nacional contra as "reformas" na saúde, pairou sempre a ideia de que havia ali muito respeitinho ou, em alternativa, uma cumplicidade solidária.
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No final da entrevista, Ricardo Costa atreveu-se a fazer uma perguntinha "de que o senhor primeiro-ministro não vai gostar". Tipo, desculpe lá o incómodo mas tem mesmo que ser, se não ainda somos todos apanhados. "O senhor é o autor dos projectos que assinou na Beira Interior?". O primeiro-ministro respondeu que sim e o assunto ficou arrumado. Nem uma vaga tentativa para clarificar o mar de incongruências que é este triste processo.
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José Sócrates foi ainda presenteado com a possibilidade de ciar o seu próprio tabú. Afinal vai ou não vai recandidatar-se ao lugar de primeiro-ministro?
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Francamente, alguém acredita que isto seja um verdadeiro tabú?
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Foi triste.
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João Castanheira

domingo, 17 de fevereiro de 2008

+ 84.000 desempregados

Há precisamente 3 anos, José Sócrates considerava “trágico” que Portugal tivesse atingido uma taxa de desemprego de 7,1%. Segundo o então líder da oposição, aquele indicador provava “que há muito deveriam ter soado as campainhas de alarme e que Portugal atravessa uma crise social muito significativa”. Referindo-se ao desempenho do governo PSD/CDS, Sócrates afirmava ainda que “nunca viu um governo perder tantos empregos em tão pouco tempo”.

Et voilà! No final de 2007, quase 3 anos depois de Sócrates ter assumido a liderança do Governo, a taxa de desemprego aumentou para 8,0%, o valor mais alto dos últimos 21 anos.

Imagino que o primeiro-ministro considere este valor pior do que trágico. Talvez mesmo susceptível de fazer tocar a rebate todos os sinos de Portugal.

Quando José Sócrates tomou posse, existiam no país 365.000 desempregados. Decorridos 3 anos de governação socialista, o número de desempregados aumentou para 449.000.

Em conclusão, não só a economia nacional não gerou os 150.000 novos postos de trabalho prometidos pelo primeiro-ministro, como o governo do PS é responsável por empurrar mais 84.000 portugueses para o desemprego.

É obra para quem tanto falou e tanto prometeu.

João Castanheira

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O fiasco económico do governo PS

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Em 2007, a economia portuguesa cresceu 1,9%. Foi com um sorriso de orelha a orelha que o primeiro-ministro anunciou ao país este feito heróico.

Será caso para tanta euforia?

Já que o governo Sócrates se especializou em estatísticas e PowerPoints aqui fica um gráfico interessante:


Pois é, nem todos os números são ainda conhecidos, mas Portugal está uma vez mais na cauda da Europa.

Como José Sócrates bem sabe, crescemos muito menos do que a média da União Europeia. O que significa que continuamos a divergir dos nossos parceiros europeus.

A riqueza produzida em Portugal no ano que passou cresceu menos do que em qualquer outro país: metade da Espanha, metade da Grécia, 5 vezes menos do que a Eslováquia...

Mas o primeiro-ministro anunciou este retumbante fiasco com um enorme sorriso nos lábios. Pretendendo, uma vez mais, transformar o fracasso do modelo económico socialista numa grande vitória.

Quem pára esta máquina de propaganda?

João Castanheira

Ele anda por aí...

Sou daqueles que ainda não desistiram de ler o Vasco Pulido Valente. Dou-lhe o desconto que se dá aos intelectuais azedos, que por estarem de mal com a vida descarregam infindáveis doses de veneno em cima de tudo quanto mexe. Mas ainda assim, acho que vale a pena ouvi-lo.

No Público de hoje, VPV faz uma lúcida apreciação sobre o estado em que se encontra o maior partido da oposição. Escreve o seguinte:

“Santana Lopes foi o pior primeiro-ministro português desde 1976. Foi também o responsável pela maior derrota do PSD desde 1975. Em princípio, devia estar morto. Só que não está. Está vivo e cada vez com mais saúde... Das duas putativas cabeças do PSD, a dele é a única que de certa forma existe. Tirando, evidentemente, as mil cabeças, de Rui Rio a Barroso e a Marcelo e aos predilectos “filhos” de Cavaco, que se preparam para cortar cabeças”.

João Castanheira

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

R.E.M.

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Ouvi-os pela primeira vez num final de tarde de 1985. Lembro-me como se fosse hoje. Naquele dia, o resto da música deixou de fazer sentido. Ao longo dos últimos 25 anos, escreveram as mais belas canções do mundo. Alguns exemplos: Talk About the Passion, Perfect Circle, Fall On Me, Swan Swan H, The One I Love, So. Central Rain
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Muito antes de qualquer sucesso comercial, criaram uma inigualável sequência de obras primas. Discos luminosos que ainda hoje permanecem razoavelmente desconhecidos: Murmur, Reckoning, Fables of the Reconstruction, Lifes Rich Pageant e Document.
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Agora que se preparam para lançar um novo álbum de originais - Accelerate - é uma boa altura para recordar a vida dos R.E.M. antes do Losing My Religion lhes ter mudado a vida.
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A obra de Berry, Buck, Mills & Stipe vale, sobretudo, por essa fase gloriosa.
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João Castanheira


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O "engenheiro arquitecto" Sócrates

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Eis um dos casebres projectados pelo "engenheiro arquitecto" José Sócrates no concelho da Guarda:
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O requinte e o bom gosto do mamarracho acima retratado estende-se a todos os outros barracões cujo projecto foi assinado pelo agora primeiro-ministro.

Segundo o Público, estes monos eram na verdade projectados por um punhado de amigos de Sócrates, que por serem funcionários da Câmara da Guarda estavam legalmente impedidos de assinar os projectos.
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O esquema da assinatura de favor é conhecido e praticado em muitas das nossas autarquias. A coisa passa-se da seguinte forma: alguns técnicos camarários utilizam a sua posição privilegiada para encaminhar projectos de arquitectura e engenharia para os seus próprios gabinetes privados, frequentemente clandestinos. Aos cidadãos garantem uma rápida aprovação das obras, poupando-os ao calvário burocrático do licenciamento camarário.
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Como a prática é obviamente ilegal, os técnicos da autarquia socorrem-se dum engenheiro ou arquitecto exterior à câmara. Alguém sem escrúpulos e com pouco respeito pela profissão que, a troco duns cobres, finge ser o autor do projecto.
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Apesar do seu acidentado percurso académico e profissional, quero acreditar que o esquema acima descrito não foi utilizado por José Sócrates. O primeiro-ministro apressou-se, aliás, a confirmar que é o verdadeiro autor de todos os projectos que assinou.
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A confirmação de Sócrates levanta, porém, uma questão pertinente e por demais inquietante - será possível que o génio criativo do primeiro-ministro de Portugal tenha parido um conjunto de obras tão ordinárias como aquelas que o Público nos revela?
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João Castanheira

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008