Sempre defendi que a Caixa Geral de Depósitos deve manter-se nas mãos do Estado.
Disse-o e escrevi-o inúmeras vezes, muito tempo antes da actual crise, que quase arruinou os mercados financeiros um pouco por todo o mundo.
Lembro-me de repetir, perante o olhar crítico dos meus amigos mais liberais, que os indicadores de desempenho da CGD são tão bons ou melhores que os dos bancos privados, que a CGD gera lucros importantes, contribuindo decisivamente para o orçamento de Estado e que é necessário que o país disponha de um instrumento forte que permita intervir no mercado, desde que de forma criteriosa e responsável.
Nada disto é particularmente exótico. Em grandes países, como a Alemanha, a França ou a Espanha, para citar apenas alguns casos, os bancos públicos coexistem com os bancos privados, num sistema misto que está longe de prejudicar a eficiência do mercado.
Sempre achei estranho que os meus amigos mais liberais, defensores da privatização da CGD, nada dissessem quanto ao facto dos bancos privados ocidentais estarem a ser comprados por fundos soberanos de países pouco recomendáveis. E que mantivessem a obsessão por privatizar a CGD, quando todos sabemos que é o governo angolano que está a comprar a banca portuguesa.
Foi por isso que assisti, com alguma satisfação, à salvação das poupanças de alguns convictos ultraliberais, que em desespero de causa transferiram para a CGD as poupanças que tinham colocado no BCP ou no BPN. Afinal, a confiança na gestão privada não era ilimitada.
Vem isto a propósito da notícia de que o buraco no BPN já vai nos 1.800 milhões de euros, isto é, meio aeroporto de Alcochete. O mercado também tem destas coisas.
Como em tudo na vida, nesta matéria é preciso equilíbrio e bom senso.
João Castanheira
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