quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mas que belo exemplo!


Já está. O primeiro-ministro e vários outros membros do governo foram apanhados a fumar no voo para Caracas, violando a lei do tabaco.

De acordo com os relatos de quem assistiu ao episódio, o primeiro cigarro ainda foi fumado atrás das cortinas. Mas as bafuradas seguintes foram dadas às claras, revelando uma arrepiante sensação de impunidade, se não mesmo de provocação, já que o avião estava repleto de jornalistas.

Há nesta atitude do primeiro-ministro um profundo desrespeito para com o país e para consigo próprio. Um líder político que cria uma lei e que ostensivamente a viola é alguém que não consegue dar o exemplo e que se coloca a jeito de todas as críticas.

A partir de agora, que condições tem o Estado para exigir aos cidadãos comuns que cumpram esta mesma lei?

Recorde-se que o zelo do governo chegou ao ponto de instituir uma brigada de costumes – o consórcio ASAE-DGS – que fiscaliza de forma fundamentalista o cumprimento da lei. É certo que o próprio Inspector-Geral da ASAE foi apanhado a violar a lei, mas do primeiro-ministro esperar-se-ia um pouco mais de bom senso.

E que mal sai a TAP na fotografia, ao tentar minimizar os danos para o primeiro-ministro. Como bem sabem os responsáveis da companhia, pouco importa se se trata de um voo regular ou de um voo fretado. Nada disto tem que ver com procedimentos internos, mas sim com uma lei da república, que se aplica em todos os voos e que obriga todos os cidadãos, a começar pelo primeiro-ministro.

Este não é um episódio menor, pois revela uma despreocupação e uma leviandade que não são próprias de um primeiro-ministro.

A única forma de José Sócrates salvar a face é assumir publicamente que errou, pedindo desculpa aos portugueses pelo seu mau exemplo. Qualquer desculpa, mais ou menos esfarrapada, será um tiro no pé e um tiro na lei.

João Castanheira

Sem comentários: