sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Caixa Geral de Cimentos


Ainda o escabroso negócio de compra de acções da Cimpor.

Vá lá saber-se porquê, a Caixa Geral de Depósitos decidiu tornar-se accionista de um fabricante de cimento, o que é por si só uma decisão delirante.

Para adquirir a participação de 9,58% na cimenteira, o banco público poderia ter ido ao mercado, onde teria comprado as acções a 3,79 €, gastando qualquer coisa como 244 milhões de Euros.

Em vez disso, adquiriu, simpaticamente, a participação ao empresário Manuel Fino, pagando por cada acção 4,75 € (+25%) e desembolsando 306 milhões de Euros. Isto é, oferecendo um prémio de 62 milhões, que entrou directamente no bolso do empresário.

Hoje, essa mesma participação vale 196 milhões de euros, ou seja, 112 milhões a menos que o valor pago pela CGD.

Mas o Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Cimentos mostrou-se irritado com o facto de a notícia ter vindo a público. Pouco importa, se o negócio foi bem ou mal feito. O problema é que os galegos tenham sabido.

Isto não pode ficar assim. Tratando-se de um banco público, exige-se uma explicação cabal e detalhada desta negociata.

Se a CGD executa as dívidas aos pobres e aos remediados, não pode pôr-se de cócoras perante os ricos. Para fretes como este, o melhor é entregar o banco, de uma vez por todas, à Sonangol ou à filha do José Eduardo dos Santos.

João Castanheira

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ouça-se o Conselheiro Loureiro


Para Vitor Ramalho, a solução para a crise pode estar no Conselho de Estado.

Convoque o Presidente da República o Conselho de Estado e de imediato assistiremos ao renascimento da economia nacional.

Ouça-se o Conselheiro Loureiro e logo se encontrarão soluções para a crise na banca.

Dê-se voz ao Conselheiro Jardim e num ápice descobriremos a solução para o equilíbrio das contas públicas.

De acordo com a Constituição, o Conselho de Estado deve reunir, por exemplo, para declarar a guerra ou fazer a paz.

Então porque não recorrer ao Conselheiro Loureiro para acabar com a crise?

João Castanheira

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Somos todos tolinhos


O muro de silêncio que se abateu sobre o negócio da CGD com Manuel Fino é ensurdecedor.

A que título é que um banco público se torna accionista de fabricas de cimento? Voltámos definitivamente ao PREC?

Por que razão um banco público compra acções 25% acima do preço de mercado, desbaratando 62 milhões de euros que pertencem aos contribuintes?

E por que raio é que a CGD se inibe de vender as acções, assegurando a Manuel Fino a possibilidade de recompra e assumindo o banco todo o risco sem qualquer proveito?

O silêncio do Presidente da CGD e do Ministro das Finanças é insuportável.

A ser verdade, este negócio não é apenas ruinoso, é pornográfico. Em qualquer país do mundo civilizado, rolariam cabeças e seriam pedidas responsabilidades.

Por cá, o relativismo político, ético e moral leva a que tudo seja aceitável. Don’t worry, be happy!

Somos todos tolinhos.

João Castanheira

É fartar vilanagem!


Um construtor civil de Braga tentou comprar um vereador da Câmara Municipal de Lisboa por 200.000 euros.

Quebrando a impunidade habitual, o pato bravo foi apanhado e condenado no Tribunal da Boa-Hora por corrupção activa, o que não pode deixar de ser uma boa notícia.

Só que a aplicação de uma multa de 5.000 euros – 40 vezes menos do que Domingos Névoa quis pagar a Sá Fernandes – é a demonstração de que as nossas leis penais são próprias de uma república das bananas, que não se dá ao respeito e onde vale a pena ser corrupto.

Domingos Névoa saiu do tribunal a rir-se e prometendo que vai continuar a fazer aquilo que sempre fez. É natural.

Ficámos todos a saber que mesmo quando apanhado a tentar comprar um político, um pato bravo faz a festa com uns trocos. É fartar vilanagem!

João Castanheira

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O Portugal podre

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O apodrecimento da nossa democracia é, em boa parte, originado pela inoperância da justiça.

Os casos de corrupção e enriquecimento ilícito de titulares de cargos públicos multiplicam-se à frente dos olhos dos cidadãos, gerando uma sensação da mais absoluta e criminosa impunidade.

Uma impunidade que destrói a confiança no Estado de direito e que mina, de forma irreparável, os alicerces do regime democrático.

É sabido que os corruptos mais precavidos colocam as fortunas a salvo fora do país, esforçando-se por levar uma vida relativamente sóbria e mantendo as aparências até ao dia em que decidem mergulhar numa reforma dourada. Esse é, apesar de tudo, um sinal de algum respeito pelo povo e pela justiça.

Mas a erosão dos valores e a falta de vergonha levam a que haja cada vez mais corruptos que não se coíbem de exibir, de forma provocatória, ostensivos sinais de riqueza. Uma riqueza que não pode, de todo, ser justificada.

No brilhante artigo de opinião que assina esta semana na revista Sábado, Pacheco Pereira põe o dedo na ferida: “Não se pode enriquecer na vida pública”, afirma PP. E não se pode enriquecer na vida pública porque os salários pagos pelo Estado dão para viver, mas não dão para enriquecer.

Acrescenta ainda PP: “Não havendo fortuna pessoal ou fonte conhecida de rendimentos e bens, a aquisição de verdadeiras fortunas durante o exercício de cargos públicos é matéria de escândalo público e devia ser matéria de justiça”.

A cidade de Braga – como muitas outras – é uma inesgotável fonte das mais sórdidas histórias de enriquecimento, sempre arquivadas por falta de provas ou por falta de meios.

Ainda esta semana, o Correio da Manhã dava conta da vida de luxo do chefe da divisão de urbanismo da Câmara de Braga. A história de um funcionário público que, com o seu magro salário, conseguiu construir uma das mais belas e luxuosas casas deste país. Haverá, eventualmente, uma explicação para este caso, que seria importante conhecer.

Aqui fica a notícia do Correio da Manhã:

“Mário Louro, chefe da Divisão do Planeamento Urbanístico na Câmara de Braga, tem uma vida de luxo. A casa onde mora, com vista para o rio Cávado, é uma construção de sonho. A "constatação" foi feita pelas autoridades policiais no âmbito de uma investigação às suspeitas de enriquecimento ilícito que recaíam sobre vários autarcas bracarenses.

A PJ pediu o levantamento do segredo bancário e acedeu às contas do arquitecto, alvo de uma das denúncias que entrou na PJ. Mas por falta de disponibilidade de meios acabou por não ser feito o cruzamento do património com os processos em que o técnico superior teve intervenção enquanto responsável pela gestão do Urbanismo.

Fica também por explicar qual o rendimento que lhe permitiu adquirir a casa. Em dez anos na autarquia (entre 1992 e 2002) recebeu 331 mil euros de salário bruto. Um valor bastante inferior ao preço da casa (sem o terreno), que custa seguramente mais de um milhão de euros.

A moradia mereceu uma menção nos prémios FAD de Arquitectura e é presença assídua em revistas especializadas em casas e decoração. Mário Louro entrou na Câmara em 1985 e em 2002 passou a chefe de Divisão de Planeamento Urbanístico. O arquitecto é responsável pela elaboração de vários projectos, como o Parque Urbano do Picoto".

João Castanheira

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Demokracia


Para o Pedro Vieira, a golpada de Chavez na Venezuela não pode ser criticada pelos Europeus, que se preparam para impor a repetição do referendo ao Tratado de Lisboa, contornado por essa via a vontade popular.

Diz o Pedro Vieira: “aproveitemos para apelidar o Chavez de malandro até à ocasião em que conseguirmos repetir o referendo na Irlanda, as vezes que forem necessárias, a ver se da terra dos duendes vem um Sim, europeu, democrático e sorridente, não um daqueles latino-americanos, boçais e usurpadores”.

De facto, repetir referendos até que o povo diga o que os políticos querem ouvir é, no mínimo, desonesto e pouco democrático. Mas porque será que a nossa esquerda libertária não se lembrou desta desonestidade quando forçou a repetição do referendo do aborto em Portugal?

João Castanheira

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Uma ementa de arrepiar...


Para quem acha que a distinção entre esquerda e direita já não faz sentido, nada melhor que uma voltinha por um dos muitos blogues da nossa esquerda caviar, com o Arrastão à cabeça

Está lá tudo: aborto, eutanásia, salas de chuto, seringas nas cadeias, anti-semitismo, Hamas, nacionalizações, ódio às empresas, ataque às forças de segurança, desculpabilização do crime, imigração sem controlo, ódio à igreja católica, simpatia com ditaduras medievais...

Por baixo do verniz de modernidade há uma ementa de arrepiar.

João Castanheira

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sarrafada intelectual


O Augusto gosta é de “malhar na direita”, área política onde sua excelência inclui o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista.

Ora saia um pires de caracóis para a mesa do senhor ministro.

Há muito que o Augusto se impõe pela elevação e pelo requinte oratório. Mas, com o passar dos anos, os discursos com sabor a tremoço deram lugar a verdadeiras sarrafadas intelectuais.

Hoje, as palavras do senhor ministro deixam o mais requintado salão a cheirar a cerveja e coirato.

É por estas e por outras que José Sócrates classifica o PS como o “grande partido popular da esquerda democrática".

Em boa verdade, a coisa é mais popular que democrática. Com a mão na anca, o Augusto é melhor que uma varina.

João Castanheira

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Desonestidade intelectual


A desonestidade intelectual de Ana Gomes não conhece limites. Anda há anos esta muchacha a crucificar políticos em praça pública, do alto de uma pretensa superioridade moral que ninguém lhe reconhece.

As acusações sórdidas que dirigiu a diversas personalidades não socialistas, basearam-se em insinuações e rumores absolutamente infundados e jamais provados em lugar algum.

Por muito, muitíssimo menos que o caso Freeport, Ana Gomes pendurou no pelourinho gente absolutamente inocente.
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É por isso – e só por isso – que a defesa que faz do primeiro-ministro no caso Freeport roça a indigência ética. Uma defesa que, que de tão incoerente com a prática habitual, só se compreende à luz do processo da elaboração de listas para as eleições que aí vêm.

Digam lá se, vindas de onde vêm, estas palavras não dão a volta às tripas: “Devo assegurar não ter quaisquer razões que me levem a duvidar da consistência das declarações que o Primeiro Ministro José Sócrates proferiu a propósito do seu envolvimento no "caso Freeport". A menos que a Justiça o venha contrariar celeremente ou que alguém o infirme com consistência intransponível - e não na base de insinuações, deduções ou "construções" simplistas e avulsas - estou em crer que o modo, o sentido e a oportunidade dos ataques a José Sócrates, para além de o visarem pessoal e politicamente, visam sobremaneira o PS e o governo do PS que ele dirige."
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Não lhe pesarão na consciência os infames ataques pessoais que desferiu no passado recente?
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Disgusting!

João Castanheira

Haja decoro!


Socorro! O relvado do estádio do Sporting - onde decorre a meia-final da Taça da Liga - está rodeado de publicidade ao Banco Português de Negócios!

E porque não uma campanha de promoção do Banco Insular ou uns anúncios ao “bordel” que a SLN comprou em Porto Rico?

O buraco já vai nos 1.800 milhões de euros, montante que seria suficiente para construir 10 grandes hospitais centrais.

Mas os contribuintes ainda têm que pagar a campanha publicitária.

Uma publicidade que é absurda e inútil, porque a marca BPN está morta e enterrada.

Pior que isso, quanto mais os portugueses virem aquelas 3 letras, mais se lembrarão do que elas representam. Haja decoro!

João Castanheira

O buraco


Sempre defendi que a Caixa Geral de Depósitos deve manter-se nas mãos do Estado.

Disse-o e escrevi-o inúmeras vezes, muito tempo antes da actual crise, que quase arruinou os mercados financeiros um pouco por todo o mundo.

Lembro-me de repetir, perante o olhar crítico dos meus amigos mais liberais, que os indicadores de desempenho da CGD são tão bons ou melhores que os dos bancos privados, que a CGD gera lucros importantes, contribuindo decisivamente para o orçamento de Estado e que é necessário que o país disponha de um instrumento forte que permita intervir no mercado, desde que de forma criteriosa e responsável.

Nada disto é particularmente exótico. Em grandes países, como a Alemanha, a França ou a Espanha, para citar apenas alguns casos, os bancos públicos coexistem com os bancos privados, num sistema misto que está longe de prejudicar a eficiência do mercado.

Sempre achei estranho que os meus amigos mais liberais, defensores da privatização da CGD, nada dissessem quanto ao facto dos bancos privados ocidentais estarem a ser comprados por fundos soberanos de países pouco recomendáveis. E que mantivessem a obsessão por privatizar a CGD, quando todos sabemos que é o governo angolano que está a comprar a banca portuguesa.

Foi por isso que assisti, com alguma satisfação, à salvação das poupanças de alguns convictos ultraliberais, que em desespero de causa transferiram para a CGD as poupanças que tinham colocado no BCP ou no BPN. Afinal, a confiança na gestão privada não era ilimitada.

Vem isto a propósito da notícia de que o buraco no BPN já vai nos 1.800 milhões de euros, isto é, meio aeroporto de Alcochete. O mercado também tem destas coisas.

Como em tudo na vida, nesta matéria é preciso equilíbrio e bom senso.

João Castanheira