quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quem quer dar uma ajudinha aos ricos?

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Não há outra leitura para o caso do Banco Privado Português. Trata-se de uma pequena instituição de gestão de fortunas, com um limitadíssimo número de clientes, que confiaram ao banco os seus milhões.

Durante anos, o banco de João Rendeiro pegou nessas fortunas e investiu-as em negócios de elevado risco, com rentabilidades chorudas. Durante anos, os accionistas e investidores do BPP lucraram principescamente com os ganhos, o que é absolutamente legítimo.

Agora que chegou a hora das perdas, que não lhes passe pela cabeça a ideia de nacionalizar os prejuízos. Ao correrem os riscos que decidiram correr, os accionistas e os clientes do BPP sujeitaram-se a ganhar ou a perder, como é normal numa economia de mercado.

Durante muito tempo ganharam, agora perderam. Toca a todos.

E se o banco tiver que falir, é a vida...

João Castanheira

Auto-avaliação já!


As más-línguas dizem que os sindicatos querem, pura e simplesmente, acabar com qualquer modelo sério de avaliação de professores. As mesmas fontes asseguram que, no seu íntimo, os sindicalistas – e uma boa parte dos professores – pretendem o regresso da indecente progressão automática na carreira.

A acusação é injusta e eu explico porquê.

É que a Fenprof apresentou o seu modelo alternativo de avaliação. E o modelo que a Fenprof defende assenta num violento e muito arriscado processo de auto-avaliação. Isto é, cada professor classificar-se-ia a si próprio. O modelo é muito duro, mas os professores parecem disponíveis para o aceitar, a bem da pacificação do sector.

Nesta óptica, eu defendo mais: auto-avaliação também para os alunos, porque é indispensável acabar de vez com o insucesso escolar.

E mais ainda: auto-promoções, auto-definição de salários e auto-estipulação de horários, não só para o sector da educação, mas para todo o funcionalismo público e já agora também para as empresas privadas.

E porque não auto-julgamentos na justiça, para descongestionar os tribunais?

Todos para a rua, a defender a auto-libertação imediata do Dr. Oliveira e Costa e a auto-atribuição retroactiva da liga dos campeões ao Benfica.

Com a auto-regulação, ninguém pára esta grande nação.

João Castanheira

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Estudantes em luta

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Os estudantes estão em luta.

Aparentemente o que precisam é de faltas e educação sexual. E já agora uns charros e umas cervejas.

Entrevistado pela SIC, um dos manifestantes atirava hoje com indignação: “Isto é uma bergonha, não darem mais faltas à gente. A malta quer é faltar. Somos jovens, precisamos de faltas”.

Ora aí está uma luta com pernas para andar.

E que tal um bacanal na aula de educação sexual?

João Castanheira

P-R-O-P-A-G-A-N-D-A

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Muito sinceramente, a paciência começa a esgotar-se. É demasiada propaganda, demasiada palhaçada. Tudo falso, tudo postiço. Ou os figurantes são pagos ou as playstations são para devolver depois da saída das câmaras de televisão. Chega de teatro.

Aqui fica um excerto da notícia do SOL:

"A Escola do Freixo, em Ponte de Lima, foi o palco escolhido por José Sócrates, na passada quarta-feira, para mais uma acção de promoção dos computadores da JP Sá Couto para o 1.º ciclo. Sócrates chamou os jornalistas e distribuiu os Magalhães pelas crianças. Mas, terminada a cerimónia oficial, os portáteis tiveram de ser devolvidos".


João Castanheira

sábado, 15 de novembro de 2008

peixe : avião


peixe : avião é a grande revelação do momento. Vêm de Braga e seguramente cresceram a ouvir Radiohead.

O resultado tem uma força e uma frescura pouco habituais na música moderna portuguesa. 40.02 é um disco como há muito não se ouvia por cá.

Sobre ele, o conterrâneo Adolfo Luxúria Canibal escreveu: "Há muito – demasiado – tempo que não somos surpreendidos por uma obra musical. Nada de espantar, porquanto os milagres e o sublime só acontecem muito raramente… Mas quando temos o privilégio de viver um momento desses, como é o caso com a audição de 40.02 de peixe : avião, só podemos regozijar-nos e espalhar a boa nova pelos quatro cantos da terra".
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Camaleão - onde se ouve a voz de Ana Deus - é uma canção brilhante. Mas o resto do disco não fica atrás.
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João Castanheira

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A Intifada dos Ovos


Sobreviverá a ministra da educação à Intifada dos Ovos ou acabará transformada em omeleta?

Ontem, acossado por mais uma saraivada de gemas e claras, o secretário de estado adjunto dava a entender que os miúdos eram perigosos sindicalistas arregimentados pelo PCP.

Depois dos 120.000 professores comunistas, o governo começa agora a ser atacado por milhões de crianças filiadas na JCP. A subversão está em marcha.

Ingratos, mal agradecidos. Já se esqueceram do milagre das notas?

João Castanheira

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

E se trocássemos umas ideias sobre o assunto...


Rui Ramos escreveu ontem no Público uma frase lapidar sobre a actual situação do "ocidente": Por isso, a política que preferimos é esta: a que fala de uma mudança a acontecer, para não ter de enfrentar a mudança que já aconteceu.

Na verdade, e apesar dos constantes avisos - esta crise financeira é mais um, não sei se será o definitivo -, vamos continuando, em muitos sectores da opinião pública e publicada, a fingir que o mundo ideal em que vivemos nestas últimas décadas ainda existe e que, apesar dos mares tormentosos por onde vamos navegando, ainda é possível, com um bom capitão e perícia na manobra, encontrar bom porto.

E tudo isto acreditando que os problemas são sempre culpa de outros e que acontecem sempre algures...

Contudo, e para maior das estupefacção, são aqueles que no passado mais defenderam a necessidade de uma mudança/revolução permanente que agora, a coberto da mesma ideia de mudança mas com o secreto desejo de que nada mude, tudo fazem para que o nosso mundo fique como era, não se altere e adapte aos novos mundos que nos batem à porta ou já se sentaram nas nossas salas, para que tudo se mantenha o que já não poderá tornar a ser.

É à esquerda que a batalha pelo conservadorismo mais imóvel e arcaico se vai fazendo, é à esquerda que o velho mundo que já não somos vai continuando a fingir que existe.

Assim, de facto, só mesmo Dom Quixote para os redimir...

Luís Isidro Guarita

BOM, BOM, BOM, BOM e BOM

Já se percebeu que o modelo de avaliação de professores adoptado pelo governo socialista não serve.

Mas também já se percebeu que uma parte da classe – os maus professores – não está interessada neste nem em nenhum outro modelo de avaliação.

A não ser, talvez, num modelo “à Alberto João Jardim”, em que todos são classificados, por decreto, com a nota de BOM. Os bons e os maus, os competentes e os incompetentes, os presentes e os ausentes, todos são iguais aos olhos do Governo Regional da Madeira. Um verdadeiro incentivo à mediocridade.

E sendo esta a ministra da educação que reintroduziu as passagens administrativas à moda do PREC e inventou milhares de alunos brilhantes para as estatísticas, não me admira que a avaliação de professores acabe numa solução à madeirense: BOM, BOM, BOM, BOM e BOM.

O embrulho da coisa será talvez menos transparente, porque falta ao governo socialista a franqueza e o desplante de Alberto João Jardim.

Mas se no final sobrar algum tipo de avaliação, é certo e sabido que não contará para rigorosamente nada.

João Castanheira

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O senhor professor constitucionalista

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O senhor professor constitucionalista é uma espécie de pit bull do regime.

Sempre pronto a morder as canelas de quem se atravesse no caminho do senhor engenheiro.

Se o primeiro-ministro manda privatizar, o senhor professor constitucionalista grita PRIVATIZAR! Se o primeiro-ministro manda nacionalizar, o senhor professor constitucionalista grita NACIONALIZAR!

Em confesso a minha emoção, porque nem os cães têm tanto amor ao dono.

O senhor professor constitucionalista acha que para nacionalizar uma empresa basta invocar o interesse público, porque a nacionalização é um acto político discricionário.

O que diria o senhor professor constitucionalista se um governo do PSD ou do CDS se lembrasse de aplicar um acto político discricionário a uma empresa da amigalhada.

João Castanheira

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

República das Bananas


Primeiro, o marajá do Funchal decidiu suspender um deputado. Depois, achou por bem suspender toda a assembleia. A democracia está portanto suspensa no arquipélago da Madeira.

Aqui há uns tempos, o soba já tinha ameaçado declarar a insanidade mental do líder da posição. Aos poucos, a Madeira vai navegando em direcção ao Golfo da Guiné. Aos poucos, a belíssima ilha vai-se afundando no lodo. Está em formação uma verdadeira república das bananas.

O que se passa na Madeira enche-nos de vergonha. E o silêncio cobarde das instituições nacionais perante os mais obscenos atropelos ao regime democrático deixa-me verdadeiramente enjoado.

Mais do que aprofundar a autonomia, penso que chegou a hora de referendar a independência. Chegou a hora de os madeirenses decidirem o que querem fazer da sua vida. Se quiserem afogar-se amarrados ao Kumba Ialá, estão no seu direito.

Foi bom enquanto durou, mas assim não dá.

João Castanheira

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

E agora?


Esta noite fez-se história.

É óbvio que a eleição de Barak Obama há-de ser recordada como um episódio maior na história dos Estados Unidos e do mundo.

Em boa verdade, o senador do Ilinóis era, nas actuais circunstâncias, praticamente imbatível. Daí que o desastre que foi a escolha de Sarah Palin tenha apenas contribuído para confirmar o desaire republicano.

Mas no dia seguinte, interessa reflectir sobre algumas das consequências da vitória de Obama. Em particular sobre os problemas com que a esquerda terá a partir de agora que lidar. Pense-se, por exemplo, nas seguintes questões:

Com Bush fora da Casa Branca, para onde irá virar-se o visceral ódio anti-americano que tem alimentado ideologicamente a esquerda um pouco por todo o mundo?

E com Barak Obama ao leme, o que fazer para evitar que as elevadíssimas expectativas criadas degenerem em frustração e desencanto?

Se pudesse votar e se não existisse uma coisa chamada Sarah Palin, eu teria votado em John McCain. Mas a verdade é que Obama encheu o mundo de esperança e isso é, no actual contexto, uma das melhores coisas que nos podiam ter acontecido.

O dinheiro pode estar a deslocar-se a grande velocidade para oriente. Mas a democracia, a liberdade e a esperança continuam onde sempre estiveram.

Deus abençoe a América.

João Castanheira

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Deste lado do Atlântico, a América Latina...

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Li, há dias, que o actual Nobel da Economia ao passar, há mais de 30 anos, pelo nosso país, levou de cá a sensação de que estava na América Latina.

Desconfio que se o senhor por cá passasse novamente, 30 anos depois, tornaria a levar a mesma sensação. É que entre nós e a Argentina (sem desprimor para aquele país), só mesmo o Euro marca a diferença.

Que Deus, ou Alá, ou Buda, ou seja lá o que for, nos salve que nós já não somos capazes.

Luís Isidro Guarita

Afinal, para que serve o Banco de Portugal?

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A pergunta impõe-se! Primeiro o BCP, agora o BPN, em seguida o que será?

Ao longo destes últimos anos há, no mundo da alta finança, algo que nos surge cada vez mais nítido. Em Portugal não existe regulação do sistema financeiro! É triste, mas é verdade!

Já não são casos isolados, já não é uma qualquer Dona Branca de vão de escada, são bancos, bancos enormes, com milhares de clientes e milhões em depósitos que, amiúde, nos surgem envoltos numa neblina incompreensível e impenetrável, onde as fronteiras da legalidade se parecem esbater a cada nova notícia e onde as poupanças de milhares de famílias se esvaem numa folha de balanço. E isto, isto é deveras inacreditável num país que se encontra na União Europeia e pertence ao clube do Euro. É que não se trata de uma crise financeira internacional, trata-se de uma gigantesca crise de gestão, de má gestão, ou melhor ainda, de gestão danosa e muitas das vezes a roçar o criminoso que nos envergonha colectivamente e que deveria embaraçar profundamente as mentes dos que, nas cátedras do Banco de Portugal, são responsáveis por observar e regular este estado das coisas. Mas não, nas bocas daqueles senhores tudo isto soa a normal, em boa verdade, aquilo que aquelas bocas proferem sobre estas normalidades soa, ele mesmo, àquela conversa das crianças que, inocentemente e perante o problema, afirmam que não sabiam. Quem é que não se recorda da rábula do genial Herman José a afirmar à professora na Escola que não sabia nada!

Tudo isto seria risível se não fosse trágico!

Ontem, ao observar o Sr. ministro das finanças a tentar explicar a necessidade de cada um de nós passar mais um cheque para pagar um problema que, apesar de detectado não está ainda completamente diagnosticado - isto significa tão somente que o cheque é em branco -, tive pena, pena de mim próprio e pena do ministro que, na sua imensa magnanimidade, lá terá que perdoar novamente o Sr. que se sentava ao seu lado o qual, apesar de responsável pela veneranda instituição que tinha a responsabilidade de impedir que eu tivesse que pagar mais este cheque, parecia estar ali como se viesse de outra dimensão, de outro mundo onde, pelos vistos, estas coisas não acontecem e onde o cargo de Governador de uma instituição com as responsabilidades do Banco de Portugal é uma mera sinecura, uma espécie de prémio de fim de carreira, que a nada obriga.

E também tive pena do Eng. Sócrates, que mais uma vez se vê obrigado a engolir outro sapo do tamanho do mundo. É que os juros que há bem pouco tempo tínhamos que pagar pela subida da dívida pública, caso houvesse necessidade de intervenções desta natureza, mas que não podíamos, nas suas palavras, e bem, diga-se de passagem, são agora a multiplicar.

Mas aquela conferência de imprensa e os factos que a ela levaram foi, na frieza dos números que nela se verteram, mais um sinal da absoluta falência moral em que cada vez mais nos encontramos e da incomensurável ligeireza com que em Portugal se assumem e interpretam os lugares públicos. Será que não há, em Portugal, uma fronteira a partir da qual a demissão se exige? Não foi, no caso da inexistente supervisão do Banco de Portugal, essa fronteira há muito ultrapassada?

A verdade é que mais do que problemas no sistema bancário, este caso BPN revela o quanto caminhamos à beira do precipício sem qualquer rede e o quanto aqueles que nos deveriam dar as garantias de que nada disto seria possível, apenas nos conseguem dar a sensação que com ou sem eles, o resultado é sempre o mesmo.

Há coisas que deviam ser inquestionáveis, a fiabilidade e segurança do Banco de Portugal deveria ser uma delas, mas pelos vistos não, pelos vistos o banco, de Portugal, só mesmo o nome. 

Assim sendo, o melhor mesmo é aguardar pelo próximo Euromilhões e fazer figas...

Luís Isidro Guarita

P.S. Já agora, porque será que fiquei com a sensação de que na conferência de imprensa onde supostamente se salvavam os depósitos dos depositantes do BPN se estava também a salvar o empregozinho do Sr. Governador?
 

O Estoiro

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Trinta e três anos após o grande assalto à economia portuguesa, a nacionalização do BPN cobre-nos a todos de vergonha.

É certo que com o banco transformado num farrapo, não restava ao governo outra alternativa para salvar os depósitos e preservar a confiança no sistema bancário. Desse ponto de vista, a nacionalização é provavelmente o mal menor.

Porém, embora surja num momento de implosão do sistema bancário internacional, o estoiro do BPN nada tem que ver com a crise financeira que arrasou a banca em vários países do mundo.

Habilmente, o governo aproveita uma onda favorável às nacionalizações. Mas aqui não há subprime. O que há são offshores clandestinos, balcões virtuais, lucros fictícios, juros insustentáveis, negócios ruinosos, fuga ao fisco e lavagem de dinheiro.

O que se passou no BPN é, acima de tudo, um caso de polícia.

Só que o estoiro do BPN revela também, uma vez mais, a absoluta incapacidade do Banco de Portugal para regular a actividade do sector bancário.

Há anos que se ouvem e lêem histórias escabrosas sobre o BPN. Uma instituição financeira onde a política se misturou com o futebol e a construção civil, numa imparável caminhada rumo ao abismo. Um lodaçal de meter medo, que aos poucos foi afastando os investidores e os clientes.
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Toda a gente sabia menos o Dr. Vitor Constâncio que, como muito bem lembrou Paulo Portas, recebe o maior salário do regime, precisamente para evitar estoiros como este.

Mas tal como sucedera no BCP, o Banco de Portugal chegou tarde ao BPN.

E agora serão os contribuintes a pagar a factura.

João Castanheira