segunda-feira, 31 de março de 2008

A festa da democracia


Eis a notícia que todos esperávamos: “O fantasma da fraude nas eleições no Zimbabwe pode ser colocado de parte”. A afirmação é de Marcos Barrica, coordenador da missão de observação eleitoral da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Diga-se que Marcos Barrica é o ministro da juventude e desportos de Angola, país que foi encarregue de chefiar a missão de observação eleitoral da SADC.

Parabéns à SADC, pois a tarefa de chefiar a verificação dum processo eleitoral democrático não poderia ter sido melhor entregue. Como sabemos, Angola é hoje uma democracia madura e consolidada, referência democrática aclamada internacionalmente pela lisura e pela transparência com que decorrem os seus frequentes processos eleitorais.

Pouco importa que as últimas eleições legislativas em Angola tenham ocorrido há 17 anos e que tenham terminado com a eliminação física dos principais dirigentes da oposição. Pouco importa que o presidente da república esteja no poder há 30 anos sem nunca ter sido legitimado democraticamente. Pouco importa que jamais tenham ocorrido em Angola eleições autárquicas.

Em boa verdade, as eleições no Zimbabwe são é uma grande chatice. O povo pensa que vota, os observadores da SADC fazem de conta que observam e Mugabe finge que conta os votos.

Ou muito me engano ou o tiranete sanguinário sairá em ombros, para gáudio da vizinhança.

João Castanheira

domingo, 30 de março de 2008

Bandalheira

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Ainda sobre a bandalheira revelada pelas imagens da escola Carolina Michaëlis, não resisto a transcrever o comentário dum participante anónimo no debate lançado pelo Público:
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"À luz da retórica actual, a professora ali agredida deve ser penalizada na sua avaliação porque, manifestamente, não sabe motivar a aluna.
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Quanto à agressora? Deve ser compreendida e apoiada, já agora com uns planos compostos por muitas fichas do tipo: aprender a aprender... aprender a ser... ser e aprender... ser e ser... estar e aprender... elaboradas pela professora agredida".
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João Castanheira

sábado, 29 de março de 2008

Revolução e torradas

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Uma irreprimível fúria libertária tomou conta de Cuba. Depois de ter legalizado as panelas de pressão e os micro-ondas – objectos descaradamente subversivos – o regime da família Castro autorizou agora a comercialização de telemóveis.

Eu acho mal. Qualquer dia, os cubanos são autorizados a comer como gente normal, o que tornará inevitável o aburguesamento da revolução.

É certo que, de acordo com o despacho do governo, a liberalização das torradeiras não acontecerá antes de 2010, o que refreia um pouco o carácter reaccionário das mudanças em curso.

Mas será a moratória às torradas suficiente para travar o avanço do capitalismo?

João Castanheira

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Estado que somos...

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Li hoje, no jornal Público, um artigo de J. Bradford DeLong onde são transcritos cinco princípios elementares que, de acordo com o falecido economista Milton Friedman, são centrais à vida (saudável digo eu) de qualquer estado, nomeadamente no que se refere à intervenção do seu governo. Passo a transcrevê-los:

1. Uma política monetária fortemente anti-inflacionista;

2. Um governo deve actuar como agente do povo e não como distribuidor de favores e benefícios;

3. Um governo não deve imiscuir-se nos negócios económicos de cada um;

4. Um governo não deve imiscuir-se na vida privada das pessoas;

5. Acreditar de forma entusiástica e optimista que o debate livre e a democracia política podem persuadir os povos a adoptar princípios;

O governo português em cinco, respeita um, e esse que respeita decorre tão somente de uma obrigação que lhe é imposta externamente, mais concretamente pelo Banco Central Europeu.

Em suma, é este o governo que temos e o Estado que somos.

Luís Manuel Guarita

quarta-feira, 26 de março de 2008

O meu país é o país mais estúpido do mundo!



Custa-me afirmá-lo, mas é verdade. E digo-o porque só assim consigo compreender a decisão de destruir, no vale do Tua, uma admirável peça de património e um monumento intemporal à capacidade humana de sonhar.

Os portugueses de hoje não merecem os portugueses de ontem! 

Deixo, a quem ler este lamento, um pequeno filme, para que vejam a beleza do que está para ser destruído e para que reflictam sobre o país que somos e as decisões que sobre ele são tomadas.

www.ocomboio.net/diaporama/linha_do_tua_2006/index.html

Luís Manuel Guarita

domingo, 23 de março de 2008

A esquerda no seu labirinto

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Onde está a esquerda dos princípios morais e da altivez imperial nesta história do Tibete, que não a tenho visto?

Até admito que a questão do Tibete é complexa e difícil. Em boa verdade admito que quer ali, quer, por exemplo, no Kosovo, dificilmente vejo viabilidade para um estado, mas na verdade nem é isso que está em causa, é para já algo de muito menos. É somente uma questão de respeito e direito. O respeito devido pela China àqueles que no Tibete divergem do regime e sustentam uma solução para o Tibete, que em nada se coaduna com a actual. E o direito desses mesmos tibetanos a aspirar à libertação do seu país. Mas estas pequenas coisas, que não metem a América pelo meio, são demasiado sensaboronas para a esquerda militante.

Se não há América, então não há festa. A esquerda, definitivamente, continua perdida no seu labirinto.

Luís Manuel Guarita

A filial

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Em Portugal a Associação Portuguesa de Bancos tem uma filial nova. Chama-se Banco de Portugal e é brilhante, eficaz e inultrapassável na defesa dos seus associados, a Banca.

É assim mesmo, isto sem qualquer desprimor para a referida associação que, na minha opinião, defende e bem os seus associados.

A regulação do sector, que em teoria deveria salvaguardar todos os interesses, é, nas mãos das mentes que gerem o Banco de Portugal, um acto de sentido único, isto é, trata-se tão somente de defender intransigentemente a banca. O cliente e o seu pequeno interesse são, neste caso, irrelevantes e desnecessários, diria mesmo maçadores, até porque tendem a queixar-se.

E eis como, em Portugal, de regulador facilmente se passa a colaborador!

Luís Manuel Guarita

Era uma vez a concorrência...

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Há dias escrevi aqui que a decisão sobre a Autoridade da Concorrência nos permitiria uma melhor compreensão do que alguns pretendem que seja este pequeno país à beira mar plantado.

A decisão tomada - a não recondução do Prof. Abel Mateus -, um homem íntegro, independente e extremamente competente, que nos anos que liderou a autoridade se pautou por uma defesa intransigente de um mercado mais concorrencial e por isso mais justo para todos, e a sua substituição por alguém, que mal grado as capacidades, que não questionamos, advém da única entidade reguladora em Portugal que de reguladora nada tem, é um sinal claro do caminho que se pretende tomar.

Aqui, na West Coast of Europe, são os princípios da África subsariana que marcam o ritmo.

Luís Manuel Guarita

sábado, 22 de março de 2008

O libertino

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Luiz Pacheco, o libertino, partiu a 5 de Janeiro de 2008.

Poucos dias antes de morrer, o escritor maldito dava o veredicto sobre o seu próprio livro de entrevistas, obra a cujo lançamento já não pôde assistir: “Esse livro é uma merda! Isso é uma aldrabice. É bom para andar por essas editoras pequenas”.

Na verdade, “O Crocodilo que Voa” não é uma merda. É uma deliciosa colectânea de entrevistas publicadas entre 1992 e 2008. Ao longo dessas 12 entrevistas, Luiz Pacheco bate forte feio em alguns dos grandes nomes da literatura portuguesa do século XX.

“O Cesariny era um poeta de urinóis. Chegou a Paris, ia com esse hábito e botou a mão à sarda de um homem que estava a mijar – resultado, foi parar à cadeia. O chefe da esquadra perguntou-lhe: Então como é isso la-bas? E ele disse: É como cá. Mas não era, porque o chefe da esquadra disse: Então você tinha para aí tantas pensões para ir fazer isso, era preciso ir para o urinol deitar a mão à gaita do outro?”.

O livro começa com uma entrevista feita em 1992 por Carlos Quevedo e Rui Zink, para a mítica revista K. Ainda me lembro da fotografia de Luíz Pacheco na capa da K.

Escrevem os entrevistadores: “Luís Pacheco, escritor, sofre de asma brônquica. Calvície precoce. Fractura do úmero devido a tentativa de suicídio na Avenida de Berna. Queda de dentes natural quase total. Enfisema pulmonar bilateral. Hérnias inquinais não operadas com uso de funda dupla. Hipersensibilidade ao álcool. Tratamento de desintoxicação no Centro António Flores. Miopia e astigmatismo, quase cegueira. Bissexual assumido. Leve surdez do ouvido esquerdo. Andropausa total. Três mulheres reconhecidas. Três estadias no Limoeiro. Duas estadias na cadeia das Caldas da Rainha. Prisões ocasionais e breves em esquadras da polícia”.

Luiz Pacheco foi um herói marginal. Escreveu sobre magalas e urinóis. Na Contraponto, editora que fundou em 1950, publicou Cesariny, Cardoso Pires, Herberto Hélder, Virgílio Ferreira e Natália Correia. Viveu boa parte da vida na miséria, hospedado em quartos alugados e albergues bolorentos.

Luiz Pacheco foi um grande português. “O Crocodilo que Voa” é um livro imperdível.

João Castanheira

sexta-feira, 21 de março de 2008

Batemos no fundo


Batemos no fundo.

O episódio da escola Carolina Michaëlis revela, de forma caricatural, o estado a que chegou o ensino em Portugal depois de três décadas de complexos de esquerda, que fomentaram a irresponsabilidade dos alunos e arruinaram a autoridade dos professores.

Tudo ali está errado. Tudo ali é cruel, obsceno e chocante.

A começar pela vadia que insulta e agride a professora em plena sala de aula. Para a protagonista deste filme de terror, tudo quanto não seja a expulsão sumária e definitiva do sistema de ensino público será um prémio imerecido.

É óbvio que a punição da delinquente terá que ser verdadeiramente exemplar, sob pena de a partir de agora tudo ser admissível numa sala de aula do nosso país.

Mas o que é mais inquietante é a atitude deplorável do resto dos alunos, que assistem ao episódio com evidente deleite. Riem-se, filmam e disparam comentários como “Isto é demais!”, “Olha que a velha vai cair”.

E o que dizer da absoluta incapacidade da professora em lidar com a situação? Alguém que se dispõe a ser humilhada até ao limite por uma turma inteira não tem, objectivamente, condições para exercer a profissão de professor.

Soube-se agora que a senhora nem sequer havia apresentado queixa contra a aluna. Fê-lo ontem, quando percebeu que o país inteiro havia assistido, perplexo e revoltado, à sua inqualificável humilhação.

A presidente do conselho executivo da escola diz que abriu um processo de averiguações. Como se houvesse grande coisa para averiguar. Imagino que venha por aí o calvário burocrático do costume, que não servirá se não para deixar passar o tempo e esperar que o país se esqueça.

No fim, o processo há-de ser arquivado ou, no limite, a vadia há-de ser meigamente repreendida. A bem da não exclusão.

Sem grandes ondas, porque o assessor de imprensa do ministério da educação já veio publicamente dar as suas instruções: “A situação será resolvida no seio da escola”.

Será possível que esta gente não perceba o mal que está a fazer ao país?

João Castanheira

quarta-feira, 19 de março de 2008

Brasil


O que dizer de um país que ofereceu ao mundo o génio criativo de Oscar Niemeyer, António Carlos Jobim, Chico Buarque, Marisa Monte ou Candido Portinari?

O que dizer do país que criou o samba, a bossa nova e o tropicalismo?

O que dizer do país que inventou a Gisele Bündchen, a Daniela Cicarelli, a Maitê Proença e todas as mulheres que enchem o nosso imaginário desde crianças?

O que dizer do país onde nasceram o Pelé, o Zico, o Sócrates, o Ronaldo, o Ronaldinho Gaúcho e o Kaká?

O que dizer de Copacabana, de Ipanema ou do Corcovado, mais a Amazónia, o Pantanal, a Bahia, Ouro Preto e a utopia feita realidade em Brasília?

Há um Brasil que deu ao mundo muito do melhor que o mundo tem. Um país maior do que todas as palavras de que me consigo lembrar para o descrever.

Para mal do Brasil e para mal do mundo, esse grande país vive sufocado por um outro, uma coisa medonha crivada de favelas, miséria e corrupção.

Se o primeiro vencer, o futuro há-de ser do Brasil.

João Castanheira

segunda-feira, 17 de março de 2008

Mal agradecidos

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Dizem as más línguas que a região de Lisboa está a ser assolada por uma vaga de homicídios sem paralelo na história recente. Felizmente, foi hoje divulgado um estudo europeu a revelar que a capital portuguesa tem a segunda mais baixa taxa de homicídios da União Europeia. Melhor do que nós só La Valetta e é porque alguém se enganou a martelar os dados.

Dizem as más línguas que o país está a ser varrido por uma onda descontrolada de assaltos violentos. Felizmente, o ministro da administração interna divulgou há dias o relatório de segurança interna, documento profusamente ilustrado com gráficos que não deixam margem para dúvidas – graças ao governo do partido socialista o que está realmente a acontecer é uma histórica redução nas estatísticas do crime.

Chega de falsidades. Fontes oficiais contactadas pelo Num Lugar à Direita, asseguram mesmo que há precisamente 3 anos não se regista qualquer homicídio ou assalto em Portugal.

O problema é que a mensagem não passa. E não passa porque os portugueses são estúpidos.

O governo bem que lhes atira com PowerPoints ao nível do melhor que há no mundo. Mas é como dar pérolas a porcos. No dia seguinte, os desgraçados lá inventam mais uns tiros ou umas facadas, apenas para prejudicar reputação do senhor presidente do conselho. Mal agradecidos.

Eu confio no “engenheiro” Sócrates. Já mandei tirar a fechadura da porta e vou deixar as janelas de casa abertas de par em par.

João Castanheira

quinta-feira, 13 de março de 2008

Um voto de protesto.

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Declaro aqui,veementemente, o meu protesto contra todas as organizações internacionais que observam o fenómeno da corrupção nos países. Em nenhuma delas o meu país aparece em primeiro lugar, o que é estranho, diria mesmo, estranhíssimo. É que em Portugal não há condenações por corrupção.

Bom, na verdade minto, li hoje num diário que uns quantos coveiros de uma câmara municipal foram condenados por corrupção, ao que parece os meliantes terão subtraído um total de quase 700€ ao erario municipal. Serão eles os culpados da não classificação em primeiro cá da pátria?

Só podem, porque de certeza que não são as Fátimas, ou os apitos dourados, ou até mesmo os Parques Mayer, esses não são corrupção, são uma distracção num país de brandos costumes onde tal opróbrio não existe senão quando vamos a caminho da cova.

É de protestar, não é?

Luís Manuel Guarita

Nós por cá, eles por lá.

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Este episódio do Sr. Eliot Spitzer é bem revelador das imensas diferenças ainda existentes nos dois lados do Atlântico.

Nós por cá jamais concordaríamos que um problema de saias pudesse ser causa obrigatória de demissão de um detentor de um cargo público. Confesso que neste capítulo considero o extremismo moralista americano algo hipócrita.

Eles por lá acham que isso, entre outros escândalos, como a corrupção ou o desvio e má-gestão de fundos públicos, é, mais do que razão, obrigação para a demissão de quem os praticou. E é nestas últimas questões que a grande diferença entre eles e nós se estabelece.

O EUA podem ter todos os defeitos do mundo, mas que entre a lisura e integridade da assumpção de cargos públicos que por lá se pratica e a pastosa e ruinosa interpretação desses mesmos cargos que por cá se realiza, há um oceano de diferença, isso há.

E o mal de tudo isto é que, pode a esquerda demonizar a América o que quiser, que a verdade é que, séculos passados sobre Tocqueville, ainda muito temos a aprender com eles sobre como concretizar uma democracia.

Luís Manuel Guarita

O pão nosso de cada dia.

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Há coisas intrigantes!

Ao que parece, o preço de uma matéria prima essencial como o trigo tem vindo a galopar nos mercad0s. Tudo indica que, e no dizer de representantes das associações de produção de pão, tal justifica a necessidade de aumentos unitários do preço do pão na ordem dos 30%.

Até aqui e tendo em conta a realidade dos aumentos dos preços das matérias primas, tudo parecia justificável. Contudo e ouvindo outras fontes, é nos dado a saber que, num pão de quilo, apenas entre 5 e 10% do seu custo decorre da matéria-prima, donde e na nossa infinita ignorância imediatamente nos questionamos, como é que algo que apenas representa um décimo do custo do produto final provoca, nesse mesmo produto, um aumento potencial de 30% no seu preço final?

Pelos vistos, os modelos de incorporação de custos nalguns produtos existentes em Portugal são verdadeiras obras primas da contabilidade criativa, o que nos leva, desde logo, a pensar duas coisas: por este caminho é notório que está na calha mais um bem de luxo e que, de facto, não é na inovação que estamos atrasados...

Luís Manuel Guarita

Bens de luxo.

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A lista dos bens de luxo em Portugal abrange, curiosamente, alguns serviços que de luxo, só mesmo o preço que por eles pagamos.

A electricidade, o combustível e o telefone, são disso exemplo. Se no caso do combustível até poderíamos aceder à conotação, na electricidade e no telefone, só mesmo a imaginação nos leva a acreditar em tal.

Os preços que em Portugal se praticam para que o comum dos mortais, ou as empresas, possam a eles aceder, são um case study de como a extorsão legal se tornou uma prática comum no nosso pequeno país.

É que, perante a realidade europeia, é muito difícil perceber o enorme diferencial existente nestes preços, quando comparados com o que por cá se praticam, e ainda mais díficil de perceber se torna, quando a comparação se resume ao que é praticado por nuestros hermanos.

Para tudo isto haverá com certeza razões, mas que não deixa de parecer um assalto à mão armada, isso não deixa.

Em Portugal, consumir o essencial é hoje um luxo.

Luís Manuel Guarita

Coisas de sempre

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Mais de um século passado sobre a primeira viagem de comboio em Portugal. Mais de 20 anos passados sobre a avalanche de dinheiro que gratuitamente a Europa nos ofereceu. Depois de infindáveis páginas escritas sobre os benefícios do transporte ferroviário, estamos hoje iguais ou pior que há meio século atrás.

Temos hoje menos linhas de caminho de ferro. Continuamos a utilizar composições sucessivamente recauchutadas e com mais de três décadas e ainda assistimos ao facto surreal de numa das mais pequenas redes de caminho de ferro da Europa, subsistirem coisas como passagens de nível onde amiúde se dão acidentes como aquele a que assistimos na linha do Oeste.

Já não tenho dúvidas, há, de há anos a esta parte, uma gigantesca conspiração para acabar com o caminho de ferro em Portugal.

Este país, como no título do filme, não é para locomotivas e por vezes, dá-me a sensação, não é mesmo para ninguém.

Luís Manuel Guarita

Um pequeno detalhe.

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Vamos todos aguardar pacientemente pelo dia 24 deste mês. Nesse dia saberemos o quanto uma pequena decisão é o resultado óbvio do quanto nada mudámos e do pouco que verdadeiramente desejamos fazê-lo.

Dia 24 termina o mandato do actual Presidente da Autoridade da Concorrência. O tempo por ele passado no cargo pautou-se, concordemos ou não com algumas das decisões tomadas, pela procura incessante da defesa do consumidor e pelo combate por uma efectiva concorrência em todos os mercados. Tudo isto num país onde esta palavra -concorrência- tende a ajustar-se às necessidades de quem pode, menosprezando pelo caminho aqueles que deveria proteger.

Nesse dia teremos, ou não, mais um exemplo do caminho que alguns pretendem trilhar neste país e do quanto, palavras como reforma, transparência, mudança e rigor, são meros adereços de campanha.

Aguardemos pois.

E já agora, ainda a propósito de regulação. Para quando uma discussão séria sobre uma ideia de Jorge Sampaio que defendia que, para uma efectiva independência das autoridades reguladoras, as mesmas deveriam ser nomeadas pelo Presidente.
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Luís Manuel Guarita

A canção dos verdes anos.

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Às vezes vale a pena observar o passado e relembrar o que ele nos traz à memória.

Por exemplo, uma simples canção já com quatro décadas. Uma maravilha absoluta da música portuguesa e um retrato musicado do que somos.

Carlos Paredes escreveu a "canção dos verdes anos" a olhar pela janela cinzenta do país que então éramos. Hoje, se olharmos pela mesma janela mas fecharmos os olhos e ouvirmos esta admirável música, é esse mesmo país que sentimos e identificamos nas suas notas.

Há outras músicas onde se ouve Portugal, mas em nenhuma como nesta o som parece brotar da terra, do fundo de todas as almas que nela habitam.

Experimentem fechar os olhos e ouvi-la, ao fazê-lo ouvem o Portugal de sempre, hoje tão diferente mas ainda tão igual.

Ouçam: http://www.youtube.com/watch?v=XwhV1ivYNsQ
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Luís Manuel Guarita

quarta-feira, 12 de março de 2008

O que é isto do Getafe?

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Antigamente, o Benfica batia-se com o Real Madrid. Agora perde com as reservas do Getafe.
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Perguntei a um amigo o que era isto do Getafe. Ele disse-me que é uma agremiação desportiva criada há 20 anos num bairro dos súburbios de Madrid.
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Valha-me Deus, será possível que até no futebol Portugal esteja a divergir de Espanha?
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João Castanheira


O malandro do Spitzer

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Eliot Spitzer, governador do estado de Nova Iorque, demitiu-se hoje, depois de ter sido apanhado em flagrante numa investigação do FBI.
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Spitzer, um dos mais activos apoiantes da candidatura de "Billary" Clinton, construiu a sua carreira política assente na imagem de homem recto e de carácter inatacável.
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Elegeu como causa maior o combate à decadência dos valores morais, com o desmantelamento das redes de prostituição à cabeça.
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Descobriu-se agora que, entre outras tropelias, gastou 80.000 dólares em putas. Spitzer era um dos maiores clientes da rede de prostituição de luxo "Clube dos Imperadores".
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Num assomo de dignidade que é de enaltecer, apresentou a demissão e manifestou publicamente o seu arrependimento por ter defraudado as expectativas dos norte-americanos.
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Em Portugal, a investigação policial teria sido parada, as escutas telefónicas seriam declaradas ilegais e as desgraçadas das putas acabariam, provavelmente, processadas por difamação.
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João Castanheira

O pântano outra vez

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Os dirigentes do Partido Socialista entraram numa fase em que já nem a própria família conseguem convencer.
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Vem isto a propósito da participação da mulher de António Costa - n.º 2 do PS e ex-n.º 2 do governo - na mega manifestação de professores do passado sábado. Era ver a senhora professora gritar empolgada contra a política de educação do governo...
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É certo que todos os portugueses têm o direito - e o dever - de se indignarem com as políticas socialistas. Mas não deixa de ser revelador do ponto a que as coisas chegaram quando é a própria família do baronato rosa que começa a sair à rua em protesto contra os seus.
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Por este andar, bem pode o PS convocar manifestações de desagravo ao governo e outras salazarices, que a coisa dificilmente vai melhorar.
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Agora "só" era preciso que a oposição saísse do coma profundo em que mergulhou, para que o governo Sócrates e o seu folclore pseudo-reformista caissem de podre em poucos meses.
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O pântano está aí outra vez.
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João Castanheira

terça-feira, 11 de março de 2008

O traficante.


Deixo, à consideração da esquerda, a caviar e a outra, algumas perguntas.

Que comentário vos merece o facto de o vosso representante e orgulho máximo nas Américas Latinas, o inenarrável Hugo Chavez, se ter convertido num financiador de traficantes e apoiante de terroristas?
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Que reflexão vos merece a constatação de que muita da droga proveniente da América Latina com destino à Europa e passagem por Portugal ter origem nas FARC e por isso o beneplácito do Sr. Chavez?

Que vos parece um homem que financia e apoia grupos de bandidos especializados na extorsão, rapto e tráfico, que se travestem de guerrilha de esquerda?
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O que acham de alguém, que na sua pseudo obsessão Bolivariana, se acha no direito de interferir no destino dos países vizinhos, desestabilizando-os e provocando-os?
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Que acham deste senhor? Que acham desta esquerda?

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Luís Manuel Guarita

O País que somos.

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Há uns meses a esta parte, veio o governo de Portugal anunciar, com pompa e circunstância, uma coisa a que chamou Portugal Logístico. À primeira vista tudo ok. Uma rede de plataformas logísticas capazes de reestruturar o sistema de transporte e armazenamento de bens e mercadorias, a bem do ordenamento e desenvolvimento do país. No essencial, uma boa ideia!
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Contudo, uns meses depois, veio uma empresa acrescentar ao nosso Portugal Logístico mais uma localização não prevista nem estudada, fora da rede e contrária à lógica que tinha determinado o plano original.
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Imediatamente e após a proposta que esta empresa fazia, assistimos a uma demonstração da fantástica capacidade de adaptação portuguesa. Aquilo que nunca havia sido previsto, que não havia sido estudado, que contrariava as boas regras do ordenamento, pela localização e pelos impactos que daí advinham, imediatamente se tornou num desses novíssimos PIN e automaticamente se converteu numa prioridade absoluta de Portugal e num exemplo do desenvolvimento que, pelos vistos, queremos.
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Disto tudo se retira a seguinte conclusão. Não vale a pena planear, prever, estudar. Não vale a pena pensar que é ao Estado que compete determinar o planeamento estratégico do ordenamento do território. Não vale a pena pensar que há regras e valores que se deveriam sobrepôr a qualquer outra lógica. A verdade é que no nosso pequeno país à beira mar plantado há sempre uma excepção, seja para o pequeno empresário a quem apetece acrescer mais um piso ao seu empreendimento, seja para a empresa gigante que se acha no direito de fazer e desfazer qualquer Portugal Logístico que por aí apareça.
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Não vale a pena fingir, este é o país que somos!
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Luís Manuel Guarita

À beira do abismo.


É suposto um representante de um organismo religioso defender duas coisas básicas. A primeira é a noção de que há coisas que são absolutas, a segunda é a de que, em questões de princípio, não se pode ceder.

O Sr. Williams, Arcebispo da Cantuária e por isso líder máximo da igreja anglicana logo a seguir a sua Majestade, acha que não. Para ele nada é absoluto e a tudo se pode ceder.

Este Senhor, que deveria de estar na linha da frente da defesa dos valores fundamentais que constituem a civilização em que vivemos, independentemente do ramo do cristianismo em que se insere, acha que não, que não vale a pena continuar a defender esses mesmos valores, que é preferível desistir, abdicar de séculos de construção civilizacional e voltar às trevas da idade média, desprezando pelo caminho tudo aquilo que nos torna únicos, nomeadamente na capacidade que temos de assimilar e respeitar as diferenças.

Aqueles que hoje nas nossas casas nos querem impor o primado da intolerância e do fanatismo, são os mesmos a quem o Senhor Arcebispo considera normal permitir que vivam, no nosso seio, segundo as suas regras e valores, de acordo com os seus princípios e leis, coisa que aliás, seria implausível de exigir nas sociedades de que são oriundos, contrariando tudo o que temos como fundamental.

O monstro do relativismo absoluto tocou o Senhor Arcebispo, os seus tentáculos abraçaram-lhe a capacidade de discernir e revelaram a sua imensa cobardia. A cobardia de um homem que perante a parede da intolerância prefere claudicar e ceder, revelando o quanto o abismo se aproxima de nós.
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Luís Manuel Guarita