sexta-feira, 4 de julho de 2008

O sorriso de Ingrid

Há momentos que entram instantaneamente para a história.

A libertação de Ingrid Betancourt e dos seus companheiros de cativeiro é um desses momentos mágicos. Um daqueles instantes que ficam gravados na memória de quem tem o privilégio de os testemunhar, ainda que à distância de milhares de quilómetros.

O sorriso de Ingrid trouxe-me à memória um outro momento mágico – a libertação de Nelson Mandela. Depois de quase 30 anos encarcerado, Mandela quis deixar a prisão caminhando a pé, sorrindo... Foi uma caminhada plena de significado: para trás ficava um passado de sofrimento e qualquer ressentimento ou desejo de vingança. Ali começava o futuro e o futuro passava, necessariamente, pela reconciliação. Só um homem grande, talvez o maior de todos os homens do nosso tempo, poderia dar ao mundo semelhante lição.

Ontem, em apenas 22 minutos e 13 segundos, as forças armadas e os serviços secretos colombianos puseram fim a 2321 dias de cativeiro. Sem um único tiro, através de uma operação de libertação genial, que há-de, também ela, ficar para a história.

Durante mais de 6 anos, Ingrid Betancourt foi mantida em cativeiro por um bando de terroristas selvagens, raptores desumanos e traficantes de droga – as FARC – organização criminosa que continua a seduzir uma parte da nossa esquerda mais radical.

Há pouco mais de um mês, o PCP tinha subscrito, em conjunto com outros partidos comunistas da União Europeia, um documento apelando a que as FARC fossem reconhecidas como combatentes e imediatamente retiradas da lista europeia das organizações terroristas... Serão o quê então?

Ingrid lutou, resistiu, sobreviveu... E ontem saiu a sorrir. Obrigado Ingrid.

João Castanheira

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