quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um homem livre

Não há em Portugal muita gente que se atreva a dizer o que pensa do regime de Luanda, embora o mundo inteiro saiba o que lá se passa.

A razão é simples: por estes dias é difícil encontrar em Portugal alguém que não tenha interesses económicos em Angola.

Dói ter que o admitir, mas há hoje no nosso país poucos homens e mulheres influentes suficientemente livres para expressar o que lhes vai na alma acerca do regime angolano.

Ontem, numa conferência sobre desenvolvimento sustentável organizada pelo Expresso e pelo BES, Bob Geldof ousou afirmar que “Angola é gerida por criminosos”, lembrando que as casas mais ricas do mundo estão ser construídas em Luanda, enquanto o povo morre à fome.

O Banco Espírito Santo apressou-se a emitir um comunicado onde se demarca das afirmações de Geldof. Fê-lo por discordar do orador que convidou ou por ter em Angola enormes interesses económicos, que vão da banca aos diamantes, passando pelo imobiliário, a aviação, a agricultura e as pescas?

E quem são os parceiros do BES nesses negócios? Para além da própria família do presidente angolano, são exactamente os proprietários das casas de que Geldof falava.
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Os contratos e as concessões públicas que os predadores do regime distribuem por si próprios poderiam transformar Angola num paraíso na terra. Lamentavelmente, para 99% do povo Angola continua a ser um inferno.
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Bob Geldof é, felizmente para nós, um homem livre.

E pôde lembrar que é desumano e criminoso que um número restrito de famílias continue a sugar ao país, de forma imoral, toda a sua riqueza, enquanto o povo morre na mais absoluta miséria.

João Castanheira

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