Para quem hoje folheie as páginas que há mais de um século Eça de Queirós nos deixou só pode constatar uma coisa. Aquele homem além de brilhante, era um visionário. Reler o que então escreveu, as opiniões e comentários que magistralmente redigiu sobre o Portugal que éramos é, acreditem, observar o Portugal que hoje ainda somos. Para além da beleza das suas palavras, Eça deixou-nos um retrato intemporal da condição portuguesa e uma análise única, matizada pela sua finíssima ironia e superior erudição.
Mas se a observação das virtudes que Eça tão brilhantemente legou às letras portuguesas só pode ser motivo de orgulho, já os temas que abordou e a similaritude entre a análise que então fez e a que hoje poderíamos fazer ao país, não nos pode deixar senão profundamente prostrados perante a inevitável proximidade entre o país analfabeto de então e o país analfabruto de hoje.
Portugal, de então para cá, deixou de ser uma monarquia decadente, deixou de ser uma republica maçónica e radical, deixou de ser um estado novo miserável e claustrofóbico, deixou de ser uma revolução esquizofrénica e passou a ser uma democracia europeia. Isto tudo em 108 anos e tudo isto para que continuássemos a ser os mesmos...
Talvez tenha que ser assim, talvez seja isto Portugal... Mas pronto, não há que desesperar, ontem como hoje, haja vinhaça, viola e bordoada, que o país continua.
E que viva Eça de Queirós!
Luís Isidro Guarita
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