
A Refer encerrou hoje o que restava das linhas de bitola estreita do Corgo e do Tâmega.
Pela calada da noite e sem pré-aviso aos utilizadores.
Alegadamente, o encerramento das linhas foi feito por razões de segurança, embora não haja notícia de qualquer incidente ou risco agravado. E, verdade seja dita, se algum perigo existe, é porque a própria Refer votou as linhas ao abandono, à espera que caíssem de podres.
A partir de agora, os aldeões que resistem nas serranias do Douro passarão a viajar em autocarros, através de estradas sinuosas, onde os perigos são seguramente maiores.
Noutro qualquer país do mundo civilizado, estas linhas seriam verdadeiras jóias patrimoniais. A linha do Corgo serpenteia ao longo do vale do rio, em pleno Património Mundial da Humanidade, cruzando uma das mais belas paisagens do mundo.
Recordo-me de, há quase 20 anos, ter feito, com um grupo de amigos, a memorável viagem entre a Régua e Vila Real. Tinha acabado de fechar o troço que ligava a capital de Trás-os-Montes a Chaves, cruzando a região termal de Pedras Salgadas, Salus, Vidago e Campilho.
Guardo dessa viagem uma das melhores memórias da minha juventude. Não há palavras que descrevam a beleza daquela linha.
O que os sucessivos governos, a CP e a Refer fizeram ao longo das últimas décadas, aniquilando um património construído ao longo de mais de um século, é um dos maiores crimes cometidos contra o nosso país.
Um país de merda, que se prepara para gastar milhares de milhões de euros a construir linhas de TGV e uma terceira auto-estrada de Lisboa para o Porto, mas que despreza o potencial do seu glorioso património ferroviário.
Dizem que as linhas têm poucos utentes. Ora vão bardamerda, porque nas mãos de um governo competente e de uma empresa responsável, não faltariam utentes.
Esta é uma daquelas decisões que me fazem saltar da cadeira e ir à luta. Isto não pode ficar assim!
João Castanheira